A partir da década de 60, as teorias críticas questionam a orientação seguida pelos estudos no campo do currículo, envolvendo a seleção de conteúdos, o papel do próprio currículo e a função das relações de poder sobre as quais ele se assenta, bem como seus efeitos na vida das pessoas. Desses estudos, que investigavam a relação entre 'escola' e 'cultura' e o papel da escola na 'produção da memória coletiva', de identidades sociais e na reprodução das relações de poder, por meio de processos de “seleção cultural escolar”, surgiu a categoria ‘conhecimento escolar’.
Justificadamente, nota-se, chama atenção a necessidade de estudos que enfoquem a relação do professor com o conteúdo ensinado, devido à sua complexidade e importância, pois aspectos de diferentes ordens nela intervêm, desde questões de natureza investigativa, como didática e organizacional, social, cultural e política, assim como aquelas relacionadas ao próprio campo do conhecimento ao qual se liga determinada disciplina. Algumas análises têm procurado demonstrar como as reações dos professores ao currículo têm relação direta com o grupo disciplinar a que pertencem.
Novas perspectivas abrem-se, pois, para a crítica tanto da escola e da educação e do currículo, quanto dos conceitos e categorias construídos e utilizados nesse campo, pois, não há dívidas, contribuem para a reflexão sobre a formação do professor. A própria concepção de conhecimento e de formação está relacionada ao conceito de currículo, educação, sociedade, cultura, e ao significado cunhado à teoria e à prática, assim como à atribuição da escola e do profissional da educação.
Nesse processo de decantação e reinterpretação permanentes da herança deixada, ressalta-se um papel essencial exercido pela escola na construção da memória coletiva. Esse trabalho permanente de memória e esquecimento se traduz nos programas escolares e é diretamente relacionado aos contextos políticos e ideológicos, aos conflitos simbólicos e às relações de força estabelecidas entre os grupos, buscando garantir o controle dos dispositivos educacionais.
Por meio de seleções variáveis, instáveis e contestáveis, passado e presente são filtrados e reinterpretados. Afinal, não se deve ignorar, por currículo, entende-se, no mais amplo sentido, ‘trajetória’. E não se movimenta, seja qual for a direção pretendida, quando a marcha, restrita a circulação em torno do mesmo eixo, perde a qualidade de ‘andamento’ -o atributo do processo civilizatório, o qual, ainda muitas vezes um equívoco, tem sido denominado 'desenvolvimento social'.
(Caos Markus)
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