A autonomia da cultura nas sociedades contemporâneas é um tema que desperta opiniões antagônicas Nas ciências sociais. Tanto há denúncias de submissão de bens e práticas culturais aos interesses das classes economicamente favorecidas (revelando como a cultura pode ser acionada para garantir a perpetuação do poder dos estratos dominantes), quanto entende-se a cultura dotada de caráter autônomo, cuja dimensão não pode ser reduzida à estrutura social externa.
Ao ampliar o campo de análise, no entanto, a tarefa de estabelecer relações precisas e coerentes de equivalência ou oposição entre todos os elementos culturais se mostrou impossível de ser realizada, em razão de inúmeras incoerências e contradições irredutíveis a qualquer tentativa de formalização, desautorizando a convicção em uma única lógica subjacente às práticas sociais e aos produtos simbólicos de uma mesma sociedade.
Para alcançar uma concepção mais abrangente, faz-se necessária a incorporação de duas ideias centrais na teoria marxista. Inicialmente, observar a estruturação da sociedade em classes sociais; em seguida, notar as relações de luta entre as classes. Essa nova orientação teórica leva ao questionamento das teses antropológicas subjacentes ao estruturalismo, formulando críticas acerca da origem da teoria da prática.
Com efeito, o espaço social se identifica como um campo de forças, ou seja, um conjunto de relações de força objetivas impostas a todos os que nele entrem, marcadas pela irredutibilidade das intenções dos agentes individuais, ou mesmo das interações diretas entre os eles. E esses indivíduos motivadores são definidos por suas posições relativas no espaço social, considerando o volume de capital econômico, cultural e social agregado aos diversos campos nos quais os sujeitos se fazem presentes.
O capital cultural assume o significado de poder não entre seus autores, mas sim entre tais posições.
O conhecimento da posição ocupada nesse espaço comporta uma informação que considera não apenas as propriedades intrínsecas (condição), mas também as propriedades relacionais (posição) dos executores.
O espaço social tem sua dinâmica definida pela proposição do conceito de 'campo', diretamente correlacionado à posição de grupos de pessoas atuantes, de acordo com e quem o ocupa. Sua forma é guiada por um estado de maior ou menor equivalência de forças entre indivíduos e instituições, inclinados sobre a distribuição do capital específico acumulado no curso das lutas anteriores, a orientar as estratégias ulteriores.
O campo, então, constitui uma parte do espaço social, e a despeito de tal inserção, é regido por leis próprias, autônomas, sem interdependências.
Assim, longe de representar a subjetividade individual, as preferências são uma espécie de objetivação interiorizada, invariavelmente condicionada à trajetória social dos indivíduos, a fórmula geradora situada no princípio do estilo de vida.
Finalmente, para assegurar a reprodução social das opções de cada classe e, dessa maneira, perpetuar o comando das classes economicamente superiores, é relevante a fundamental contribuição do sistema escolar, sempre possibilitando a supremacia simbólica dos princípios práticos das predileções. Pois, tanto a escola quanto a família são investidas do poder delegado de impor um arbitrário cultural, na medida em que se propõem a reger uma aprendizagem da cultura por elas valorizadas.
(Caos Markus)
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