A ideia de ausência de significado sócio-cultural no mundo contemporâneo traz à consideração um refletir sobre as condições de existência do homem moderno a partir das várias transformações, sobretudo no âmbito econômico, ocorridas na sociedade desde o advento da Revolução Industrial. Essas transformações fortaleceram ainda mais a lógica do capitalismo, sobretudo a partir das descobertas científicas e da evolução tecnológica, o que colocou em xeque a própria autonomia do sujeito e, como consequência, tornando-o cada vez mais desumanizado, desorientado e reificado. O humanismo deu lugar à razão técnica e, consequentemente, as novas gerações passaram a orientar-se por valores mercadológicos. Tal dinâmica econômica, baseada no modo de produção capitalista, exige dos indivíduos um comportamento cada vez mais competitivo e individualista. Desdobramento dessa situação, coloca as pessoas numa conjuntura marcada pela dificuldade do exercício do diálogo, constituindo-se em absurda impossibilidade de troca de experiências comuns, numa época hostil às relações comunicacionais. O intersubjetivo ou é suprimido ou é visto através da lente subjetiva de um ‘eu’ central. Com essa interiorização, o tempo presente e “real” perde seu domínio exclusivo: passado e presente desembocam um no outro; o presente externo provoca o passado recordado. Na esfera intersubjetiva, o fato re stringe-se a uma sequência de encontros, meras guias do verdadeiro fato: a transformação interna. Essa mudança formal é entendida como reflexo do enfraquecimento das relações dialógicas no mundo contemporâneo. O diálogo e a ação, ambos derivados de relações intersubjetivas, fenecem. O indivíduo encontra-se numa espécie de crise de identidade, ao mesmo tempo em que a procura desesperadamente. Em face da morte, desaparecem também as diferenças intersubjetivas e, assim, a confrontação entre homem e homem. Frente à morte desse cenário, contrapõem-se, atônitos, sujeitos anônimos que, mudos, não vislumbram qualquer indício de renascimento.
Suicídio? Não. A agonia de enfermos acometidos por moléstia não diagnosticada precocemente, os sintomas da falência múltipla de multidões afastadas da subjetividade, através da supressão do diálogo, ante a impossibilidade do intercâmbio de experiências e do estabelecimento de vínculos comunitários do mundo moderno. Em seu lugar, o vazio do ‘tudo’ conquistado, mediante o ‘nada’ do ser anulado.
(Caos Markus)
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