QUINTA-FEIRA, 14: "O BARDO E O BRADO"
Porque, assim, sem porquês do que e de quem, sabemos, nós os brasileiros, sofrer em estrofes, em rimas de pé quebrado.
Porque o Brasil tem "esse coqueiro que dá coco", é esse um país "pra mim, Brasil...Brasil pra mim " e pra mais ninguém. Ainda que Barroso não se entenda por Almirante, e que os compositores não se confundam ou seja confundidos com fragata e patente dos milicianos interventores, veremos todos que, nessa "terra boa e gostosa", nenhum "filho teu não foge á luta", e por isso luta, luta, luta nos guetos dos cortiços nos morros suspensos e sem jardins, nem de Nabucodonozor, nem de Max, o Burle, naturalmente; apenas vielas e beco das muitas favelas. E o bardo bem que avisara: "Quem se deixou escravizar/ E no abismo despenca/ De um amor qualquer...Nem chegou mesmo a perceber/ Que o mundo é sonho, fantasia, sofrimento, ironia...Nas asas brancas da ilusão/ Nossa imaginação/ pelo espaço vai, vai, vai/ Sem desconfiar/ Que mais tarde cai/ Para nunca mais voar".Porque o Brasil é brasileiro, de "mulato inzoneiro", é essa uma das razões de cada um de nós cantar em verso alheio o país "à merencória luz da lua". Sem dar conta de que por "inzonar" deve-se entender "vexar o espírito", o novo trovador, febril no "calor que provoca arrepio" do "Rio 40 graus", lamenta a traição no amor à "cidade maravilhosa", berço da "terra de samba e pandeiro" e "da morena sestrosa", ou manhosa, ou astuta, ou ronhosa, ou maliciosa. E, já perplexo, o seresteiro não tem na exaltação a epígrafe da sua lírica, forçado à rendição da ufania pelo clamor beligerante das hordas "funks", nas atlânticas avenidas, dos corretores do tráfego internacional, do pó que tornou meninos de rua os meninos brozeados e parafinados da "cortina do passado", matando sede na morte de outras "fontes murmurantes". Porque essa é a "Terra de Nosso Senhor", "onde eu amarro minha rede", é nesta terra que entrou o pecado, "foram os moradores dela esquecendo-se de Deus, e deram entrada aos vícios e sucedeu-lhes o mesmo aos que viveram no tempo de Noé, como a Sodoma e Goma, foram abrasadas com fogo dos céus"; é nesta outra Babilônia que um outro fogo, de artilharia, mata um menino do Rio das ruas do Oiapoque ao Chuí; neste outro país continental, onde o Ministério da Justiça adverte para o perigo da ordem econômica injusta. É aqui onde se presta mais atenção "aos charlatães, aos intrujões e os bobos da rua" . É aqui, neste meu Brasil brasileiro que se "tira a mãe preta do cerrado" para devolvê-la à canga do senhor de escravos. Porque "no amor quem governa é o coração", é essa falta de governo, com tanto amor pra dar, e nada além disso, de um "Brasil Carinhoso", que faz uma enorme distância entre intenção e gesto. "Oh! Deus, como sou infeliz... Eu queria um minuto apenas, pra mostrar minhas penas", porque "sei que falam de mim, sei que zombam de mim, vivo à margem da vida, sem amparo e sem guarida...hoje sou folha morta, que a corrente transporta".
O bardo silencia o brado.
(Caos Markus)
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