REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
TERÇA-FEIRA, 8 DE JANEIRO DE 2012: "A MISÉRIA EM TABELA PERIÓDICA"
Ninguém suporta uma realidade imutável. Então, faço de conta que estou completamente sóbrio, só para ser mais um dentre a multidão de abstêmios anônimos. E engulo de cara feia e retorcida o fel da bebida amarga dos agnósticos. A relatividade é a prática dos infratores e dos pecadores e, por isso, vou ao céu para depois voltar ao inferno. A insuportável leveza do meu ser me faz peregrino buscando o norte pela meteórica estrela da minha vida inteira.
Em Paris não tem Corcovado, mas o tango de Marlon Brando com o dedo na manteiga é bem melhor que batucada afoxé made in Brazil na piscina do Nacional da orla marítima. Sou gringo daqui, inventando bondinho lisérgico para atravessar o mundo do muro berlinense reconstruído. E na Lua só não perdi o cordão umbilical da nave mãe porque há muito que tenho São Jorge no meu congá. A minha Terra em Transe tem a rocha de Glauber sempre que o sol se põe no duelo entre Deus e o Diabo. Pindorama é sim a minha alma andina por trás dos montes, em lírica cantiga de roda na boca de soprano bachiano.
Voltei ontem daquela viagem que prometi e não cumpri. No aeroporto, 14 bis entoava minha canção predileta, pensando que a banda tocava pra ela. Todo mundo parou para ver e dar passagem ao cobrador de aduaneira pelo contrabando que não taxa nem é imposto a ninguém. Alegria, alegria era o que mais se via no buffet tropical servido a qualquer um sem lenço nem documento. Os seios de Gal vieram depois quando a festa já terminara e o Brasil todo tinha ido morar com cubanos na Flórida. E do alto daquelas pirâmides mil séculos contemplavam Bonaparte na ilha de Elba, tudo enquanto o cheiro forte de Fidel impregnava um charuto zeppelin pelos ares nas asas da Pan-Air. Em tempos de turbulência, recomendava-se apertar o cinto, pois que era muito fraca a visibilidade nas águas de Netuno. Iemanjá ouvia os atabaques ao longe, na alforria de negreiros navios de um outro Castro.
Em meu aniversário eu preferi Ray Charles, mas disseram que ele nada tinha de lambada tocando piano para a cerveja borbulhar ao rebolado baiano em cena de Broadway. Descobri assim que o único convidado a não vir fui eu mesmo, e fui embora no trem das onze que a minha mãe já tinha morrido e eu não tinha mais casa para olhar. O que vi na estação do metrô foi uma população alienígena formando diversas tribos. Eu queria ver a tal luz no fim do túnel do tempo que não volta mais. O termômetro marcando Rio 40 graus de longitude tropical. E aquela horrível sensação de perigo iminente na escada magirus que perseguia com a sirene ligada um Andraus assaltante de banco de sangue. Testei a minha sorte na roleta bolchevique e o tiro saiu pela culatra, mesmo eu ali, todo vermelho-comum.
As ovelhas fugiram todas da minha casa de campo; de pau-a-pique e sapê, todas as músicas que aprendi nos discos não foram o suficiente para aprender Dom e Ravel.
Que dó maior esse o que tenho do estribilho nos meninos de rua! Faço de conta que não é comigo e sou capaz de virar poeta de vanguarda, decantando o bagaço da usina nuclear. Afinal, a essência - dizem - não é volátil, e na natureza nada se perde, tudo é por acaso.
Vem comigo. Se você disser que vem às 4, tornar-se-á responsável tanto quanto eu pela rosa de Hiroxima. De nada vai adiantar chamar por Exupery na terra dos homens. Aqui somente o homem que calculava é capaz de dividir tanta miséria em tabela periódica.
(Caos Markus)
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