Já se disse, no Brasil quem faz pós-graduação é porque não foi bem graduado; algo equivalente a um "reforço". Porém, via-de-regra, o brasileiro com acesso a curso superior quer um merecido respeito porque crê na condição de "iluminado", acima de uma cultura popular, à serviço dela e, por isso, devendo ser melhor remunerado. Freqüentemente, os pais encarregam-se de detectar uma não comprovada "genialidade" em seus filhos, formando, a partir dessa pré-concepção, o preconceito da existência de uma casta de reduzido número de "talentosos" a justificar destacado lugar no cenário sócio-econômico do país. Mas, definitivamente, ainda que se fale em precocidade, essa não é um sinal premonitório de um grande talento no futuro.
Convém mesmo lembrar que se há algo admissível como característica primeira do "futuro gênio" essa reside no grau de insatisfação com o ensino comum, o chamado"espírito divergente". Naturalmente, em franca observação à maioria dos "intelectualizados" nacionais, comumente o que se verifica é o conformismo, e não a predisposição em alterar ideias arraigadas na prepotência e sedimentadas no orgulho exacerbado. E, contrária ao verdadeiro gênio, anacronicamente, uma variada gama de brasileiros busca recompensa pela vantagem da exclusividade.
Ora, por que esse lamento eterno de professores que pouco fazem além de ensebar o diploma "universitário" debaixo do sovaco, procurando bastar-se à si mesmo, relutante em admitir o seu único e real status, o de trabalhador? Por que esse queixume de advogados que muito pouco enxergam adiante de uma fantasiosa singularidade baseada na prerrogativa de elemento indispensável à administração da justiça? Por que esse pranto de médicos que não distinguem como diferença entre os seus jalecos, os paletós e gravatas dos executivos ou os crachás dos bancários, tão somente a cor das suas indumentárias, tão apenas o corte dos seus uniformes? Exatamente por isso: "uniformizaram-se" de tal maneira, padronizaram-se com tamanha distinção, que uns e outros cegaram-se diante da pequena significância que têm enquanto pessoas humana, quando não vislumbram o maior significado que deveriam ter como trabalhadores comuns, à serviço da comunidade.
Se uma voz se levanta em meio ao silêncio dos mudos "profissionais liberais", quase sempre é para justificar, com pueris argumentos, como o do dinheiro investido nos estudos, por exemplo, a hipotética diversidade, exigente de discriminação por duvidosa educação esmerada.
O brasileiro pensa que já sabe pensar só porque aprendeu a datilografar, torna-se músico porque deixou o cabelo crescer, projeta viadutos porque compra régua e compasso, defende o cliente porque "biblicamente" decorou os "versículos" e a tábua de Moisés, diagnostica porque sabe usar o termômetro e manipular "band-aid", dá aulas de política porque já leu sobre a conservação da múmia de Lenine, atribuindo a queda do comunismo ao sepultamento do líder soviético.
Em nosso acervo de "conhecimentos específicos", dominamos "aptidões especiais" desde a mecânica da manivela até o complexo sistema do DNA do jornalista Clark Kent. Diante de tanta sapiência, construirmos uma nova História, repleta de heróis abnegados, e não reconhecidos, vítimas que são de um regime "opressivo, corrupto, autoritário, segregador, etc, etc". Porém, se somos todos assim tão extraordinários, tão cheios de proezas, mas quem são os verdugos? Ou será, essa história está mal contada?
(Caos Markus)
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