Por negarmos os desígnios de outrém e, na medida de nosso poder, utilizarmos o sentimento alheio somente para satisfação dos nossos fins; denota-se, à primeira vista, que o amor não é uma exceção. O amor também é, pois, vontade de poder. Apenas, em vez de pretender a conquista de um simples objeto, almeja um sujeito; reclama desse sujeito uma modalidade especial de apropriação, qual seja, a posse de uma liberdade como liberdade propriamente dita.
No amor, não se deseja à pessoa amada qualquer indício de auto-estima, mas, contrariamente, se busca através dela justificar, confirmar a si mesmo a sua individual existência.
Esta concepção, todavia contraditória, não evita o conflito. Porque o enamorado nutre-se do 'eu' da pessoa a quem declara o seu amor, aspirando perder-se na debilidade dessa "coexistência". Contudo, quando se realizasse essa fusão, teria perdido aquele a quem ama, reencontrando a solidão do seu 'eu'.
Além disso, se amar é querer ser amado, é então também desejar que o outro queira que nós o amemos, ou seja, que o outro tenha necessidade de nós.
Tal qual as demais relações humanas, o amor constitui um escamoteado conflito, uma trama de dissimulações onde os esforços são dirigidos a superioridade de um sobre o outro.
Por isso, a existência, que se imaginaria um bem supremo condicionado a uma única consciência, torna-se um mal pelo fato de o outro existir, de modo a gerar o anseio de dominação, tendente à força do poder.
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