Não raro, a suposta "pronúncia correta" ignora as variantes presentes em diversidade de dialetos, impondo por norma a fala da classe dominante.
Com frequência, mensagens impregnadas de conotações alusivas a ideologias várias preenchem livros que escassamente fazem alguma referência ao operário, e demasiado amiúde da família de classe média, entidade onde à figura materna não faltam predicados, embora submissa ao personagem paterno, voltado ao lazer enquanto a esposa "administra o lar". Uma família distante das condições reais de vida da maioria da população da América Latina e, de resto, das populações de muitos países mundo afora. Nessa instituição padronizada, a criança ideal de classe média é elevada à categoria de modelo de identificação para as demais crianças.
Os conteúdos ideológicos da classe social dominante não apenas se transmitem no ensino de História ou Geografia; não somente permeiam as páginas dos livros de leitura em geral, pois, inclusive na transmissão das noções aparentemente neutras, no ramos pretensamente menos ideologizados do processo de ensino-aprendizagem, como é o caso da apresentação do código alfabético, surge, imperativa, a ideologia. Entretanto, em termos linguísticos, um idioma não é senão o meio de comunicação entre falantes de dialetos diferentes, dentro de uma mesma família linguística, e, face o rigor da verdade, todos nós falamos uma variedade dialetal de determinada língua. Resta claro que o reconhecimento dos dialetos não envolve a ausência de normatividade, porque para haver um dialeto, impõe-se a preexistência, por um lado, de uma regra linguística (o dialeto ao qual se confere prestígio, identificado com a língua); e, por outro, os modos de fala desviantes (os demais dialetos). A separação não está representada pela oposição entre ausência e existência de normatividade. A questão é saber quem decide, e em nome de quem; qual será o dialeto a receber maior relevância no âmbito da valorização social. E neste sentido, a História, desde a Antiguidade Clássica até nossos dias, é transparente, inequívoca: o que foi identificado como língua, nacionalmente, é o modo regulador da fala da classe dominante no centro político do país. Porque a história das linguagens é uma histórica política, e a da distinção entre língua e dialeto é uma narrativa das vicissitudes da dominação interna. Não por outro motivo, uma língua é fruto de um dialeto munido da força de um exército.
(Caos Markus)
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