Marx Weber afirmava que ao limitar-se a liberdade da pesquisa e do ensino científico ainda pode ser salvo o princípio da neutralidade ética. E esse princípio salvaguardaria a honra e a dignidade do cientista, permitindo-lhe tomar certa distância relativamente aos objetivos imorais do meio dirigente. Nesse sentido, em semelhante situação, a ciência, uma vez livre de todo o sistema valorativo, poderia então assumir um papel desmistificador, tornando-se favorável ao progresso. Todavia, nas sociedades atuais, parece que o principal perigo social não provém tanto dos regimes autoritários ou tirânicos, como temia Max Weber, mas sim de um “vazio espiritual” crescente e generalizado. Diante das proclamações de que “Deus morreu” (Nietzsche) e de que “a verdade morreu” (Hilbert), e a última “profecia” do século XX, a de que “o homem está em vias de desaparecimento”, que é mero produto do “acaso”, não é “necessário”, por ser um simples “acidente” no mundo, pergunta-se: como preencher esse vazio?Parece que o preenchimento desse vazio está sendo tentado por uma “fé” no poder e no êxito da ciência realizada – a tecnologia -, uma ideologia do consumo, numa obsessão quase patológica pela eficácia dos meios. Isso tudo estreitamente ligado a uma profunda falta de interesse pelo problema da “racionalidade” e da “humanidade” dos objetivos. De tanto “racionalizar” os “meios”, o homem atual torna-se irracional quanto a seus “fins”. Nesta sua atitude, o que se pode notar é que, ante essa situação histórica, ou face a esse “clima espiritual”, não é possível crer que o princípio da neutralidade ética não possa desempenhar um papel profundamente mistificador de suporte ideológico desse tipo de sociedade.
(Marcus Moreira Machado)
Nenhum comentário:
Postar um comentário