O dilema entre o capital e o trabalho em nações de economia dependente como é a nossa tem causa naquilo que Paulo Freire chamou de "migração do capital" para os países subdesenvolvidos, onde encontra condições excepcionais de valorização. Assim, observa Freire, a cada período mais ou menos longo de estagnação e de crise o capital se lança ao assalto de novas áreas fracamente ou não de todo integradas à sua esfera de dominação; isto lhe assegura um novo período de expansão e de euforia que se opõe à tendência anterior. Isso é o que, de resto, se verifica em toda a América Latina, onde o sistema produz muito menos do que necessita consumir, resultando a inflação desta "impotência estrutural". Não temos, de fato, excedente de produção, temos sim é um absurdo baixo consumo interno. Aquele almejado equilíbrio na balança comercial, ocasião em que promove-se a harmonia entre importação e exportação, é entre nós de todo desconhecido, porque aqui os tentáculos de um Estado burocrático e todo-poderoso subtraem à nação o seu direito à sanidade.
Como não temos estadistas e sim "corretores" nacionais, no Brasil não se confere a devida atenção ao conceito do celebrado economista John K. Galbraith: "A vida econômica e política é a matriz na qual cada parte está interligada às demais e todas se movimentam em conjunto". Se não temos quem efetivamente represente os intersses e reclamos do consumidor mais simples é porque "na moderna comunidade industrial, a voz dos ricos, que inclui, notadamente, a voz das diretorias empresariais, sendo tão bem falante, via de regra é ouvida como representando a voz das massas".
Desbancar os oligopólios é desbancar o próprio governo, pois que a grande empresa tem um poder mais subjetivo, no entanto mais importante, justamente pela pressão que exerce nos governos de uma forma geral. "Advogados-estadistas" garantem, através de "lobbys" o atendimento dos interesses empresariais. O mesmo não se dá com o que se julgou denominar "classe trabalhadora", desprovida da necessária articulação política para o confronto nesse "cabo de guerra" em que se tornou a política econômica brasileira. Ao contrário disso, a sua representação se faz por meio de pessoas despreparadas para negociações, oriundas, muitas vezes, do mesmíssimo sindicalismo incipiente e anão que insiste em manter no confronto a sua atitude inconformista.(Marcus Moreira Machado)
Nenhum comentário:
Postar um comentário