Na pauta do dia , os órgãos de comunicação social alardeiam a derrocada da saúde no Brasil, enfatizando sempre o descaso com que as autoridades do setor administram o crucial problema a afligir centenas de milhares de pessoas. O sistema descentralizado, forma adotada como maneira a proporcionar um bom atendimento em hospitais e clínicas conveniadas junto ao governo federal, está falido, dizem; afirmam, em uníssono, que as fraudes constantes provocaram o atual descalabro, pelo rombo nos cofres públicos. As afirmações, se não exclusivas, indubitavelmente têm procedência em fontes fidedignas. Porém, muito mais que uma lamentável constatação, deveriam refletir um alerta aos ardis do assistencialismo do Estado que, a partir do empobrecimento da nação, vitimada por administrações perdulárias, pratica uma atividade tão remota quanto a prostituição, ou seja, a “filantropia”, e o faz buscando confundi-la com um execrável e inapropriado sinônimo, a mendicância.
Esteriotipando, estigmatizando, o Estado confere acepção incorreta e inidônea às relações em sociedade, e trata o seu virtual cidadão como um plebeu inferior que, embora com direito a voto, ainda vive sob o império da discriminação do “aparthaid social”. Assim é que, restrito ainda à figura do velho coronelismo colonial e republicano, a “res publica” aqui é “privatizada” , disfarçando-se à no nocivo hábito da mendicidade escamoteada. E já incapaz até mesmo de cumprir o lamentável papel de altruísta abnegado a distribuir brioches à multidão faminta, o Estado “confere” agora à iniciativa particular através do convênio de medicina privada, o “direito” de desproteger a saúde pública. O que se observa é a proliferação e a “proletarização” do suposto atendimento médico, em criação de uma sub espécie de “concessão” do serviço público.
(Marcus Moreira Machado)
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