John Steinbeck, prêmio Nobel de Literatura de 1962, procura, em sua magistral obra "A Leste do Éden", fazer com que nos defrontemos com o Mal que está em nossos próprios corações, indagando: "Quem não sondou as águas escuras de sua mente?"
Embora refletindo o espírito norte-americano de um período histórico, o da depressão de 1929 e a subseqüente política de recuperação econômica, atravessando o pós-guerra até o estabelecimento da Guerra-Fria, "A Leste do Éden" é, na verdade, uma ênfase da 'individualidade'. Essa preocupação mais abrangente de Steinbeck aflora em sua epopéia, permitindo-se à observação não restrita à época e local. Nesse sentido, o romance destaca-se ao considerar: "... há técnicas da mente humana pelas quais, nos recessos mais profundos, os problemas são analisados, rejeitados ou aceitos. Tais atividades envolvem às vezes facetas que um homem não imagina possuir. Em muitas ocasiões se vai dormir perturbado e cheio de angústia, sem saber qual é a causa. Pela manhã há um novo rumo e lucidez, talvez resultados do raciocínio nas profundezas. E há também as manhãs em que o êxtase borbulha no sangue, a barriga e o peito estão tensos e eletrizados de alegria, sem que nada no pensamento possa justificar ou causar tal estado."
Essa instabilidade a caracterizar o ser humano torna-o presa fácil dos seus instintos mais remotos, é de se notar. Mas, admitir essa fragilidade como ponto de partida para o auto-conhecimento não tem sido padrão para nenhum de nós. Muito pelo contrário, aparentar um equilíbrio sustentado por condutas supostamente mais de acordo com o "homem civilizado "é fingir seriedade repondendo a um modelo fundamentado na farsa e sua conseqüente inversão de valores. Dessa maneira garante-se credibilidade aos que de fato não a possuem, mas que projetam a imagem desejada pelo cinismo a que se resolveu intitular sobriedade.
(Marcus Moreira Machado)
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