REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
QUARTA-FEIRA, 4 DE MARÇO DE 2009:"NEGÃO"
O francês não conhecia nem Romário nem a cor dele. Pixinguinha, então, certamente o francês para sempre ignorará - o músico, o grande compositor e... a cor dele. Na França também há negros, e não são poucos assim. Nos E. U. A. muitos negros existem, e o francês sabe disso, como também tem ciência de que negros existem em todos os continentes. o que provavelmente o dito 1º Mundo de fato não quer ver é a grande possibilidade do 3º Mundo, muito além de mulatas assanhadas tipo exportação, ou de negros 'desovados' em terrenos baldios daquilo que erroneamente se julga o 'quintal' do pseudo mundo civilizado, aonde a promiscuidade de gente e cachorros grassa, em versão esteriotipada de "Casa Grande e Senzala".
No Brasil há músicos e jogadores de futebol. Muitos deles, negros, são instrumentistas ou atletas que fazem o mais puro delírio do francês, do italiano, do inglês na Europa re-unificada por tudo o que pretensamente têm os europeus em comum, muito menos do que pela verdadeira identidade que guardam entre si - a arrogância como mãe da ignorância.
Cacá Vasconcelos, em meio a toda negritude de sua raça, é brasileiro e é percussionista. Na Dinamarca ou na Suécia, Vasconcelos grava música supostamente dinamarquesa ou sueca, com todo o sabor "jazz-afro-brasileiro". E a gente cá, pensando: será que eles não enxergam ou será que não ouvem?
Flora Purim - essa uma branca (ou será meio branca? Afinal aqui todos nós temos um pé na cozinha e outro no mato, com sangue negro e sangue índio nas veias) -, por várias vezes foi considerada melhor intérprete de 'jazz' no país de Tio Sam. Da mesma maneira, o "Traditional Jazz Band", de anglo-saxão só tem o nome, pois brasileirinho da silva, conseguiu sagrar-se favorito, mais de uma vez, em New Orleans, justamente o berço do "jazz". Pepito Martinez, pelo nome em nada lembra a raça negra, mas foi aqui, no Brasil, em meio à mescla de ritmos a fundir a musicalidade tão peculiar ao nosso povo, que a sua banda aprendeu a tocar, e bem.
Falar de Machado de Assis, de Lima Barreto (o grande defensor do 'maximalismo' russo e germânico do país), é raciocinar sobre a origem da Academia Brasileira de Letras por um mulato. Obviamente, o francês que não conhece um Romário de hoje, jamais ouviu falar desses outros craques; no máximo Pelé, não mais que isso.
Há o inverso preconceito? naturalmente.
Lembro-me de quando, ainda adolescente, passando por um boteco, eu ouvi som de timba ou atabaque acompanhando o samba no lugar. Habituado à percussão desde menino, sempre incentivado por meu pai, me deu uma vontade louca de batucar e pedi aos músicos - todos negros - para dar uma 'canja'. Foi engraçado o que eu ouvi: ô, minha gente, o couro na mão de branco... sujou. Dez minutos depois, eu já era chamado de 'irmão' e convidado a ficar para aquele e para mais outros batuques. À oportunidade, um outro branquelo como eu (será mesmo?) comentou: esses pretos são cheios de preconceito, pensavam que você, por ser branco, era ruim de samba. E eu respondi: espera um pouco, o maior preconceito do branco é achar que negro não pode ter preconceito! Não se falou mais no assunto.
Talvez o intelectualizado europeu conheça do nosso carnaval somente a nudez e não o lindo espetáculo de coreografia muitas vezes idealizado por negros que habitam a pobreza dos morros cariocas, não a nobreza da harmonia, para não falar de todo um conjunto de ricas divisões nas frases musicais dos tamborins, agogos, surdos e ganzás.
"Há quem diga que o batuqueiro é cheio de 'trejeito', razão pela qual o seu modo de agir é expressivo e magnífico... Não se deixa vencer pelo cansaço e facilmente cumpre o tempo correto da apresentação do batuque", comenta José Roberto Guedes de Oliveira. Mas, pretender que o 1º Mundo conheça a história do folclore afro-brasileiro é não levar em conta a história da colonização do Brasil, impregnada de ranço moldado na pretensa superioridade racial.
Ah, meu caro francês...! Você também não conhece Cassiano Ricardo, o poeta do nosso modernismo que sobre o 'velho espírito' dos acadêmicos olhares da também velha Europa assim se manifestou:... a meta da vanguarda brasileira era "a libertação dos ismos estrangeiros ainda que fossem os da vanguarda européia em benefício de um real local". Pois a nossa brasilidade está assentada em princípios e valores que são frutos da nossa riquíssima miscegenação racial, a fazer de homens rudes verdadeiros heróis, exaltados em uma única frase que vale por todo um hino - "O sertanejo é antes de tudo um forte".
Então, com é fácil explicar, no entanto é difícil de ser entendido, leve consigo esse nosso orgulho: "Eu sou negão!" E se quiser aprender um pouco sobre nós, ó meu francês, só mesmo vindo morar aqui, abandonando o seu jornalismo de pasquim, casando com uma negona e caindo no pagode depois de uma partida no Maracanã.
O convite está feito. Venha, porque uma outra qualidade nossa é a da hospitalidade, recebendo intrusos como se fossem nossos parentes mais próximos, servindo-lhes uma feijoada e um vatapá. Aliás, tudo coisa de negão.(Marcus Moreira Machado)
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