REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
QUARTA-FEIRA, 25 DE FEVEREIRO DE 2009:"LOUCO ÚTIL"
Tolstói explica porque em seu parecer “A Ciência pela Ciência”, é uma concepção absurda. Nós não podemos conhecer todas as obras, pois que seu número é praticamente infinito. É, portanto, preciso escolher desde já. Podemos selecionar esta escolha sobre o simples capricho de nossa curiosidade? Não será mais importante deixar-nos guiar pela utilidade, pelas nossas necessidades práticas e, sobretudo, morais? Não temos outra ocupação mais interessante que a de contar o número de estrelas que existem sobre nosso planeta?
É indubitável que a palavra utilizada não tem para Tolstói o sentido que lhe atribuem os homens de negócios e, com eles, a maioria de nossos contemporâneos. Se preocupa pouco com as aplicações da indústria, com as maravilhas da eletricidade ou do automobilismo, os quais considera mais como obstáculos ao progresso moral. O útil é só o que pode melhorar o homem.
Nem uma coisa, nem outra. Nem esta plutocracia ávida e limitada, nem essa democracia virtuosa e medíocre, unicamente ocupada em expor o maximalismo da esquerda, e na qual viveriam sábios na ociosidade, que, evitando os excessos, morreriam não de enfermidade, mas sim de tédio. Mas, este é um problema de gosto, o que não é interessante discutir.
Nem por isso deixa de subsistir esse problema, que merece nossa atenção; se nossa escolha não pode ser determinada mais que pelo capricho ou pela utilidade imediata, não pode haver Ciência pela Ciência, nem, por conseqüência, Ciência. Isto é verdade? Que deva haver escolha, não há dúvida; qualquer que seja nossa atividade, as obras, os acontecimentos são mais rápidos que nós mesmos e não podemos nunca alcançá-los; ao tempo em que um sábio se empenha em descobrir uma obra, se produzem milhões de outras em cada parte de seu corpo. Querer encerrar a natureza na Ciência seria como querer encaixar o todo na parte.
Pois, os sábios acreditam que há hierarquia de feitos e que pode existir entre eles uma hierarquia criteriosa; têm razão, uma vez que sem isso não haveria Ciência, e a Ciência existe. É suficiente abrir os olhos para ver que as conquistas da indústria que têm enriquecido a tantos homens práticos não haveriam jamais existido se estes homens práticos não tivessem sido precedidos por loucos desinteressados que morreram pobres, que não pensam jamais na utilidade e que não tiveram outra direção senão a de seu próprio capricho. Estes loucos têm economizado a seus sucessores o trabalho pensar. Logo, pois, a maior parte dos homens não gosta de pensar, e isto, por outro lado, é um bem, posto que o instinto os guia; amiúde, melhor que a razão, nos guiaria uma inteligência pura, sempre que persigam um fim imediato; pois, o instinto é rotina e se pensamento não o fecundasse não progrediria mais no homem que na abelha ou na formiga. É necessário, então, pensar por aqueles que não querem pensar e, como são numerosos, é preciso que cada um dos nossos pensamentos seja o mais útil possível.(Marcus Moreira Machado)
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