Não venham os imbecis de cátedra vincular de uma vez por todas a causa da nossa depauperada economia a suposta e bastante questionável conseqüência de alienação e de despolitização. Imunidade à idiotice institucionalizada adquire-se na recusa em aceitar a tal instituição. É algo mais ou menos assim: cada um de nós poderia (ou ainda poderá?) readquirir a capacidade inata de pensar, recusando-se a ser mero e passivo receptor e, consequentemente, fiel depositário das babaquices jornalísticas, para reassumir a freqüência de competente transmissor e gerador de idéias. Adaptar-se, em simbiose parasitária às imposições de uma mídia monopolista é render-se à farsa da festa democrática, onde todos têm o sacrílego direito de discordar sobre tudo e qualquer coisa que não ofereça nenhum perigo à estabilização da ordem cultural vigente e vigorosa (vigorosa porque tradicional, ainda que travestida na fantasia da renovação).
Eu não sou capaz de incomodar sempre que a pré-ocupação é incomodar-se com inverossímeis incredualidades.
Não levamos todos estes anos para a conquista de Estado de Direito algum! Então, que direitos são essas mil possibilidade de organizarmos as nossas outras mil diferenças em mais mil comitês dos “iguais”. O tempo que levamos não foi outro senão o para podermos admitir que agora já fazemos tudo aquilo que antes a censura não nos permitia: - as nossas próprias bobagens. Eles, os governantes de outrora (aliás, não por coincidência os mesmos de hoje), é que perderam o medo de nós (tinham?), perceberam que não oferecíamos o menor perigo, porque souberam identificar o crucial: que nós não temos o hábito de pensar, e que, por isso, quem não pensa arruina-se por imaginar que o faz.
Pré - potência é confinar-se no que pode vir a ser mas não virá, é perpetuar-se na latência do promissor postergado. Não é essa a minha vocação. Eu espero que discordem de mim sempre, mas não porque eu use ou não cuecas, jamais porque eu desacate com o meu impudor a Liga das Senhoras Católicas (ou o que restou delas) representada por uma imprensa banal e fofoqueira a vasculhar não os escândalos da rampa do palácio, porém as rampeiras das passarelas. Eu preferiria ser totalmente desacreditado por uma nação se ela dessa nota zero à espalhafatosa alegoria dos meus inebriantes discursos e desclassificasse o meu samba enredo de “pé quebrado”.
Se presidente fosse (e não quero ser presidente nem de clube da esquina) eu renunciaria imediatamente após a divulgação do pleito, somente para poder - em derradeira oportunidade - advertir os meus eleitores que eles são autogovernáveis, desde que distinguam “archein” de “krátos”. Quem sabe o Brasil ficasse curado de tanta insânia, também ela, a exemplo da vinheta global, gerada na ficção, dessa vez a política. E, quem sabe, cessasse de imediato essa insistente ejaculação verbal precoce pelo país afora. E, quem sabe, quem sabe, o brasileiro ouvisse mais atentamente a sua própria razão, que já não sei se está irremediavelmente enclausurada nos prosaicos atos libidinosos de um “juiz de fora” que nem de bandeirinha apita mais, amargurado em sua alcova presidencial da Sapucaí.
Enquanto eu não renuncio (o povo está preparado sim para votar, só não está para renunciar), cansei de não ouvir. Vocês, porém, façam-me apenas uma gentileza (vocês são deveras pródigos em gentilezas), ouçam-me uma única vez: '-Tchau e benção!'(Marcus Moreira Machado)
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