O poder é um 'meio' simbolicamente generalizado de 'comunicação'. Não depende nem da submissão concreta nem imediatamente do efeito obtido por seu detentor. Porque o 'poder', entendido como o 'código' que ele representa, realiza uma redução de complexidade (de ambos os lados, ou seja, nos pólos ativo e passivo; do detentor e do submetido) ao nível da ação também bilateral. Equivale dizer que igualmente o detentor do poder tem de ser movido para usar o "seu poder"; o que gera sucessivas dificuldades. Efeito disso é que o poder não é o instrumento de uma vontade sobre a outra; mas, como 'meio' de 'comunicação', ele instrumentaliza, não uma vontade já dada, e sim uma vontade por ele produzida, enquanto 'meio', vinculando-a, sujeitando-a, conduzindo-a ao sucesso na absorção de riscos e levando-a ao fracasso.
Nessa situação, nota-se que o poder é meio para a transmissão de seleções de 'ações', no qual ambos os comunicadores são sistemas aos quais se imputam seleções como suas ações. Assim, o submetido -o sujeito passivo do poder- é alguém de quem se espera que escolha sua própria ação, daí inferindo-se a possibilidade de auto-determinação. No entanto, é neste pressuposto que são dirigidos contra ele elementos de poder, através de ameaças, no sentido de regulá-lo nesta escolha por ele realizada.E de igual modo, o detentor do poder se auto-determina. Com isso, na relação entre ambos fica postulada a possibilidade de uma previsível e identificável divergência. Pois, confirma-se, a ambiguidade prevalece: de uma lado, força e rendição; de outro, controle e submissão.(Marcus Moreira Machado)
Um comentário:
Lendo seu texto, lembrei de Michel Foucault. Para Foucault, o poder não somente reprime, mas também produz efeitos de verdade e saber, constituindo verdades, práticas e subjetividades.
Para ele estuda o poder disciplinar e o biopoder, e os dispositivos da loucura e da sexualidade. Para isto, em lugar de uma análise histórica, realiza uma genealogia, um estudo histórico que não busca uma origem única e causal, mas que se baseia no estudo das multiplicidades e das lutas.
Parabéns pelo blog.
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