De extrema relevância, merecem lugar destacado as intervenções pedagógicas em favor da aprendizagem infantil nas instituições educativas regulares. Proposta como reflexão, não se desconsidera a condição de miséria e sofrimento a que estão submetidos aproximadamente dois terços da população mundial, vivendo na linha da pobreza ou abaixo desta. Nas unidades escolares, esta desigualdade econômica se expressa de inúmeras formas: na escassez de recursos didático-pedagógicos, na precariedade das instalações físicas, na fragilidade da formação e, principalmente, na capacitação de profissionais da educação, independentemente da modalidade de ensino. Embora repudiado, esse quadro interfere diretamente na oferta e no acesso à educação, na qualidade da mesma e, sobretudo, no nível ou série em que se dará a conclusão dos estudos. E se ele precisa ser vencido com o enfrentamento das desigualdades econômicas, é indispensável reafirmar a essencialidade do professor, da sua ação intencional em favor de uma prática educativa capaz de instrumentalizar quem ensina e quem aprende para construir uma nova sociedade. Miramos uma prática educativa de identificar, superar desafios e de projetar uma condição humana em que homens, mulheres e crianças (independentemente de sua etnia, condição física ou intelectual) não sejam reprodutores da miséria, mas constituam-se como pertencentes à humanidade, porém, com condições plenas de vida. Nessa perspectiva, pontuam-se as contribuições da Psicologia Histórico-Cultural (também denominada Teoria Histórico-Cultural, ou Psicologia Sócio-Histórica), fundamentada nos preceitos do Materialismo Histórico e Dialético, nos escritos de Karl Marx e Friedrich, no século XIX, considerando o professor em sua função de mediador apto a sistematizar e a ordenar o processo de ensino.
É preciso pontuar, a ação do educador, independentemente de sua formação ou condição de trabalho, expressa a concepção de homem, de sociedade e de educação, a vigente e a projetada. Assim, seja qual for o local onde se efetive a ação escolar, ela espelha um modelo de educação. Com esse entendimento, torna-se fundamental efetivar uma ação educativa intencional, onde a potencialidade de aprendizagem seja a condição primeira.
Nesse exercício de reflexão, é absolutamente admissível considerar como esteio os escritos de Bertolt Brecht (1898-1956), que dedicou sua obra a desvelar a lógica das instituições sociais, entre elas, particularmente, a escola. A esse educador e dramaturgo alemão, opositor ao nazismo (uma das formas assumidas pelo capitalismo nos anos 20 e 30 do século XX), cabe o mérito não apenas de ser um exponencial literato, mas principalmente, porque, em tempos de absoluto conflito e miséria, trouxe à discussão a função da educação. Seus personagens, especialmente os da peça “A mãe”, permitem repensar o conteúdo e a didática presentes nas instituições educativas, sejam elas teatros ou escolas. Brecht alerta que a organização da escola, à parte sua localização ou o tempo de funcionamento, pode ter somente uma de duas orientações: ou limita o sujeito ao seu tempo e ao seu espaço e, assim, minimamente, ensina-lhe códigos e expõe-lhe informações; ou se efetiva como um cenário de estímulos a desafios; ou atua em favor de que todos se apropriem das grandezas da ciência e do “belo”, materializado por meio da arte, e apresentando as possibilidades de transformação já antes demonstrada pela história da humanidade. Os textos e as cenas de Brecht favorecem a expressão do conteúdo pela criação da forma; raciocínio voltado à organização das salas de aula, aos painéis expostos nas paredes, à disponibilização dos recursos e materiais didáticos como revelações conceituais de educação dos profissionais de uma determinada instituição, tenham eles, consciência disso, ou não. Para Brecht, não há independência da escola em relação à dinâmica da sociedade. Assim, no seu entendimento, a escola, de fato, referenda a prática social, à medida que traz, em suas atividades cotidianas, a forma de relação estabelecida pelos homens na luta pela vida.
Na abordagem de Brecht sobre a educação formal, destacam-se, como elementos de conhecimento e cogitação, a função da escola, os livros didáticos, a função da arte, os recursos e procedimentos didáticos e a organização do espaço, quer no teatro ou na escola. A rotina da instituição transparece da maneira como se idealiza o potencial de aprendizagem e desenvolvimento das crianças; capacidade evidenciada, minorada ou anulada, dependendo das ações pedagógicas realizadas.
Tomando como exemplo a Educação Infantil, ao observar as opções, as decisões e a postura do professor ante as crianças nos passeios, suas reações diante de um feito, dos primeiros traçados, dos gestos imitados, nos diálogos com os familiares ou responsáveis, é perceptível uma ideia de possibilidades ou de limites, de avanços ou retrocessos. Imprudentemente, todavia, é comum desconsiderar-se quanto um elogio, ao firmar um passo, para o pequeno que aprende a andar; um olhar atento, quando a criança explica o que desenhou; um incentivo afetuoso na construção de um brinquedo; são todas condutas motivadoras de novas tentativas, ao invés de inibir a criança diante das tarefas do seu cotidiano escolar.
Por todas estas razões, não se pode negar a extrema importância do referencial teórico a subsidiar as ações do educador, habilitando-o na ampliação do trabalho pedagógico com estratégias internas à escola.
(Caos Markus)
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