Considerar o estilo de aprendizagem do sujeito poderá contribuir para questionar as causas da quantidade significativa de crianças com insucesso escolar, as quais, apesar de não serem reprovadas, sofrem pela condição de alunos considerados medíocres ou desinteressados.
Mas, o que é um estilo? O estilo é definido como o conjunto dos caracteres que diferencia uma determinada forma expressiva de outras. Deve ser contrastado com o gênero definido como qualquer agrupamento de indivíduos, objetos, fatos e ideias que tenham caracteres iguais. O aluno está imerso num contexto social. Responde a ele, mas, simultaneamente, manifesta sua singularidade, seu estilo de aprendizagem, que expressa uma forma de lidar com a vida escolar. A queixa escolar manifesta algo dissonante, em desacordo com o modelo concebido no ambiente escolar. São discursos recorrentes: “a letra é feia”, “não se compreende sua escrita, pois é caótica”, “aluno diferente de seus companheiros, fala pouco”, “aluno no mundo da lua”. Quais seriam as possíveis razões dessas dissonâncias? Para alguns, elas representam dificuldades específicas, decorrentes de inabilidades de várias ordens como de pensamento, de coordenação viso motora, da capacidade para estar atento etc. No contraste ente o gênero de ensino e o estilo de aprendizagem resta explícita a explicação mais abrangente da queixa escolar. Tal como os pintores, o aluno está imerso num discurso social ao qual deve corresponder. Seu estilo de lidar com o conhecimento e o saber depende de como vive e significa esse discurso social. ‘Discurso’ neste contexto significa uma linguagem compartilhada por um grupo de indivíduos e comanda as modalidades de laço social Os nossos alunos dissonantes estão mergulhados num discurso social onde o trabalho, o esforço, e o tempo estão controlados por um gênero de vida marcado pelo imediatismo. A lei é a do esforço mínimo. As regras são mais difíceis de serem cumpridas numa sociedade onde cada vez mais os adultos solicitam participação da criança em decisões, para as quais ela ainda não tem competência. A etimologia da palavra ‘infância’ tem como origem o sentido de “aquele que não tem voz”, “aquele a quem não se escuta”. Hoje, a criança e aluno, além de terem muita voz em decisões, também apresentam mais dificuldade para se curvar diante das normas impostas pelo grupo social. A escola tradicional, enquanto gênero, valorizava a disciplina. Sustentava-se uma pedagogia preocupada com a formalização em detrimento do conteúdo. A escola contemporânea está voltada não somente à transmissão de conteúdos, mas, sobretudo, à construção e reconstrução conceitual. Os conteúdos são pretextos para que o aluno possa aplicar os conceitos em situações diferentes. Para isso, o conteúdo transmitido precisa ser comparado, analisado, relacionado com outros conhecimentos, esperando-se do aprendiz a capacidade para julgar, discernir e produzir um conhecimento onde possa se manifestar, expressando seu pensamento. Esse gênero de ensino demanda do discente: disciplina, organização, esforço, criatividade, empenho. Algumas das características do infante contemporâneo são a menor tolerância à frustração e ao esforço; o imediatismo, não valorizando senão aquilo que possa, no seu juízo de valores, servir para agora, desprezando um futuro, sem ao menos o avaliar no curto, médio ou longo prazo. Noutras palavras, tudo tem que ser resolvido rapidamente. Mas, ressalta-se, o gênero de ensino da Escola contemporânea demanda um aluno ativo, crítico, participante. A passagem pela escolaridade é, portanto mais laboriosa do que na Escola tradicional. Nesta bastava desenvolver disciplina para memorizar conteúdos. É neste ponto pertinente a pergunta: será que nossos alunos dissonantes, de alguma forma, também não estão denunciando através da queixa escolar conflitos entre gênero e estilo? O estilo de aprendizagem ou a forma peculiar de lidar com o conhecimento e com o saber têm como origem as primeiras experiências de adaptação à vida. É insuficiente olhar para a grafia inadequada do aluno associando-a com sua inabilidade para desenhar e escrever. Afinal, para o educando, qual o significado de desenhar e escrever? Por que não consegue sentar para escrever ou desenhar? Através de sua relação com a escrita, o aluno mostra uma posição singular diante desse conhecimento. A psicopedagogia está interessada em compreender as possíveis causas do desencontro entre gênero e estilo de aprendizagem. Interesse a refletir acerca da passagem pela educação concebida também como um gesto estético. Cada aluno, a partir de seu estilo de aprendizagem, lidará com os desafios de por meio de diferentes configurações. A escola tradicional priorizava a uniformização, todos deviam aprender igualmente, nos mesmos padrões. Porém, assim mostra a realidade, a verdadeira integração decorre da consideração da alteridade, isto é, das diferenças. Isto implica em dizer que todos devem aprender igualmente numa sociedade onde somos diferentes. Por isso, o desafio é maior para o atual educador: aprender a lidar com os estilos diversificados, sem desconsiderar o gênero. Cada gesto humano é uma manifestação estética. Se há uma arte de viver, nela ninguém nasce artista. Enquanto se vive e aprende, alguns mais, outros menos, tornam-se seus artífices.
(Caos Markus)
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REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
segunda-feira, 12 de maio de 2014
DOMINGO, 18 DE MAIO DE 2014: "A ESTÉTICA DA EDUCAÇÃO"
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