A produção de ideias, de representações e da consciência está, em primeiro lugar, direta e intimamente ligada à atividade de geração e comércio de bens de consumo entre os homens. Esta é a linguagem da vida real. A consciência não é a determinante da vida, mas sim a vida é quem demarca a consciência. Isso não significa que o homem crie suas representações mecanicamente, pois sua crença, seu conhecimento e seu modo de pensar sofrem interferência também das ideias (representações) previamente elaboradas. E ao mesmo tempo, as novas concepções ocasionam mudanças, proporcionando a recriação da sua existência. A evolução humana e o desenvolvimento da sua história não dependem de um único fator; ocorrem a partir das necessidades materiais. Estas, bem como a forma de satisfazê-las; considerados também os padrões de relacionamento para consumar metas; observadas ainda as compreensões multiplicadas, sem ignorar o próprio homem inserido na natureza circundante; são interdependentes, constituindo uma rede de interferências recíprocas. Daí decorre ser infinita a sequência contínua de mutações, onde o ser humano se (re) produz. Nessa multideterminação envolvendo inter-relações e intervenções mútuas entre idealizações e condições materiais, a base econômica será sempre causa fundamental. As circunstâncias econômicas em sistemas sociais baseados na propriedade privada resultam em grupos cujos interesses são conflitantes, com possibilidades diferentes no interior da sociedade, ou seja, acarretam distinções entre segmentos. Em qualquer organização marcada por antagônicos objetivos, as percepções refletem esses contrastes. E, embora predominem as representativas das especificidades do grupo preponderante, uma vez possibilitada a manifestação de expressões da realidade contrária, confirma-se a plausibilidade transformadora presente na sociedade. Portanto, é de se esperar, em um certo momento, há significações diversificadas e opostas do mundo. Hoje, por exemplo, tanto os conteúdos políticos correspondentes à conservação das condições existentes quanto os voltados à sua supressão, correlacionam-se a interesses próprios de diversificadas classes sociais. Dentre as ideias concebidas pelo homem, parte delas constitui o conhecimento referente ao mundo. Em suas múltiplas modalidades (senso comum, cientifico, teológico, filosófico, estético), o conhecimento humano exprime condições materiais de uma pontual época histórica. Uma das formas desse saber, a ciência é delimitada pelas carências materiais ao longo da sua trajetória, ao mesmo tempo nela intervindo. O progresso científico não é, pois, prerrogativa do homem contemporâneo, mas sim a marca comum da pluralidade de situações no evoluir da sua construção. Em concomitância, a bilateralidade atua como fonte originária de pensamentos e explicações, gerando outras reais disposições e ordenamentos, reflexos da ruptura ocorrida pela transposição racional dos mais recentes referenciais, buscando superar a ilusão, o ignorado e o imediato, almejando compreender as normas gerais regentes dos novos fenômenos.
Enquanto tentativa de explicar a realidade, a ciência identifica-se como uma atividade metódica que, ao se propor conhecer esta mesma realidade, busca atingir sua meta por meio de ações passíveis de serem reproduzidas. Por isso, a ciência moderna é síntese de teses (hipóteses comprovadas) articuladas, não necessariamente verdadeiras, onde a comunicação as tornará comum a dois ou múltiplos sujeitos, por ação multilateral e por meios diversos, abrangendo codificação, transmissão ou deslocamento.
Por efeito, não se faz necessária qualquer veemente argumentação a fim de reconhecer na comunicação o meio de a consciência ampliar-se, atingindo o seu máximo grau, o da conscientização operada pela ideação.
(Caos Markus)
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