A obediente veneração tem caracterizado a relação da sociedade com os meios de comunicação. E adoração significa tanto submeter-se sem questionamento, a partir de determinados dogmas, quanto temer os meios. Essa inclusive, é outra forma de conferir a tais meios um largo espaço em nossas vidas, a ponto de gastarmos muito tempo de nossas preocupações maldizendo-os, negando-os, enxergando-os como a grande magia atual. Desde a falta de empregos à banalização da nudez, criando, portanto, uma sociedade dita sem valores; das eleições manipuladas à prática da violência. Por todas as desonras, enfim, eles têm sido responsabilizados. Incorporados ao convívio social, os meios de comunicação atraem para si a culpabilidade de todos os males, porém, de forma pontual, pois estes são arrolados um a um, como se não formassem um conjunto, uma totalidade. Por algum tempo, fala-se só da nudez; em outro, apenas da manipulação eleitoral. Com isso, deixam-se de lado discussões absolutamente indispensáveis para entendê-los e, ao final, certamente modificá-los. O papel do Estado na chamada modernidade; os direitos dos cidadãos ou a própria conceituação de cidadania; como os meios de comunicação aparecem neste projeto de Estado e qual deve ser seu papel na formação de homens não somente cientes dos seus direitos, mas aptos a reivindicá-los; são questionamentos ordinariamente não formulados nem refletidos. Na verdade, os meios de comunicação precisam ser observados sem a aura de virtuosismo. É necessária a consciência de que eles não passam de instrumentos a serviço de políticas causadoras de malefícios e/ou benefícios à sociedade, deixando, assim, de ser considerados algo próximo ao sobrenatural para então, sob a ótica da realidade, identificarem-se como construídos e sustentados por seres humanos. Afinal, são objetos manipuláveis, orientados e transformados pelo coletivo de seus usuários. É indispensável recusar a divinização desses meios, invertendo-se-lhes o sentido, e transformando a reverência num olhar dono de si mesmo, livre e soberano diante das propostas midiáticas. A soberania desse novo olhar qualifica o cidadão, habilitando-o a repensar o resultado das concepções de Estado. Logo, impõe-se acrescentar à pauta das discussões acerca dos meios de comunicação o debate sobre qual é a sociedade desejável, como o Estado deverá atuar para garantir os direitos básicos da cidadania irrestrita, e aí incluído, sim, o papel dos meios; tudo resultando em um diálogo de homens para homens.
(Caos Markus)
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