A discussão sobre ‘técnica’ e ‘educação’ deve começar pela constatação de sua existência como fenômenos das sociedades contemporâneas. Essa postura inicial, pragmática, há de ser considerada como complementar e não como oposta às abordagens críticas produzidas pela filosofia, pela sociopsicologia ou por outras ciências. Ela implica a tentativa de indexar alguns dados da dimensão empírica dos dois sistemas considerados úteis na análise do tema. Essa indexação pode, por sua vez, adotar posturas críticas de diversas ordens teóricas ou ideológicas. Não há educação sem uso de técnicas; a maioria destas é de natureza substancialmente comunicacional.
A primeira designa a comunicação como todo ato de relação do indivíduo com as outras pessoas e com o restante do mundo. Ora, o ser humano está em uma relação com alguém ou alguma coisa a partir do momento em que há uma interação. A não ser em raros casos, a interação é a situação mais frequente da existência humana. Por isso, a comunicação não se limita aos atos intencionais, nem sequer à mensagem, nem, ainda, ao intercâmbio e à interatividade. Ela inclui também o sistema e o contexto que a tornam possível, transformando-a de uma inocorrência ao equivalente à mensagem explícita.
Em certas culturas admite-se que os deuses falam aos homens por intermédio do trovão, consideradas as pedras como sinais dispostos pelas divindades no deserto para ajudar os homens a atravessá-lo. Neste sentido, todos os fatos têm a ver com a comunicação, e neste caso, deve-se inserir nela também os atores aos quais os membros de uma comunidade atribuem intenções comunicativas, a exemplo dos seres sobrenaturais, dos mortos, os animais, as árvores. Existe nisso outra significação: até em culturas cujo repertório de comunicação é limitado, este será sempre muito mais vasto, além do simples uso da palavra.
Essa conceituação genérica da comunicação inclui necessariamente a educação, mas ela é por demais universalizante e, via de conseqüência, de praticidade muito reduzida. De fato, complica tanto quanto explica. Um observador distraído, frente ao mundo abarrotado de ‘objetos’ comunicacionais, pode simplesmente decidir que ‘tudo é comunicação’. Tal postura assemelha-se a um niilismo. Há, evidentemente, multiplicidade de abordagens conceituais da comunicação. Não é prioridade expor seu extenso rol, mas é útil refletir o quanto criticá-las e tentar construir simbolicamente a comunicação não oculta a sua outra dimensão, o fenômeno por ela representado, patente na infinidade de práticas, produtos, organismos, leis, usuários, produtores. Se os aparatos técnicos de comunicação não são entes da natureza, também não se reduzem a objetos ideais. Eles fazem parte da ecologia humana contemporânea, não tendo sido criados ‘por’ e ‘para’ nada.
Importa ainda considerar, o ato educativo é uma forma peculiar de comunicação, à particular disposição do docente: o professor não é apenas uma correia de transmissão de conhecimentos retirados de uma prateleira e depositados nas carteiras dos alunos. Pelo contrário, ele é um comunicador de saberes. Sem as técnicas e as artes de comunicá-los não teria, certamente, nenhum sucesso no seu mister, qual seja, o de, professando, intercambiar conteúdos programáticos com o discente. Porque, considerando um programa de informática como a formalização de um processo sistemático, constituído por número determinado de operações, das quais se espera resultados através de variadas linguagens; as informações ministradas pelo educador também são processadas, porém, em condição superior, através de sistemas constituintes de inúmeras respostas, tantas quantas forem as perguntas precedentes.
(Caos Markus)
Nenhum comentário:
Postar um comentário