A Esquadra de Cabral aportara em solo indiano, em 22 de abril de 1500, trazendo consigo, além da tripulação de marujos treinados pela Escola de Sagres, do Infante Dom Henrique, uma enorme população de portugueses, suprimida socialmente por Portugal e sem muita escolha sobre o próprio destino. Porém, apesar de termos até então entendido o referido desbravamento como uma descoberta, algumas importantes investigações científicas mencionam outra realidade: a de que o Brasil precisava ser oficialmente apresentado ao mundo europeu, indicando-se então a referida data como a de seu oficial descobrimento pelos portugueses.
O que era então, em seus primórdios, o Brasil em relação ao que entendemos por uma sociedade, senão apenas uma terra em que lusitanos desgarrados, em sua maioria homens? E judeus obrigados a se converterem ao cristianismo, aqui se estabelecendo sem qualquer espécie de ordenação social, sob o impacto da enorme dificuldade de comunicação?
Nesta época, travava-se por parte dos lusitanos, intensa, árdua e complicada comunicação com os índios locais a fim de instituir uma comunicação sustentável que lhes prouvesse, no mínimo, o convívio necessário à sobrevivência de ambos, que ali já se interagiam como povos, dividindo e mesclando culturas e tradições, criando um vínculo de intimidade entre os sexos opostos, resultando na primeira matriz de brasileiros. Surgia a miscigenação como caráter principal de uma sociedade em formação. Povos que se uniam, por interesses diversos e que, ao longo dos anos, constituíam famílias vivendo sob uma marca cultural de forte autenticidade, totalmente diferente das gerações antecedentes.
Na seara sociolinguística, variantes de expressões do coloquial eram quase que naturais e bem absorvidas, pois não havia, à época, razões econômicas ou políticas, de hábito, forte influência nas colônias, capaz de descentralizar a sociedade.
Percebe-se, cada sistema cultural está sempre em mudança. Entender esta dinâmica é importante para atenuar o choque entre as gerações e evitar comportamentos preconceituosos. Da mesma forma como é fundamental à humanidade compreender as diferenças entre povos de culturas diversas, é necessário saber entender as diversidades dentro do mesmo sistema.
Enfim, a erudição do coloquial ocorre no mesmo dinamismo deste processo, o da superação da imposta dualidade cunhada no binômio "nobreza-plebe".
(Caos Markus)
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