No discurso neoliberal, a educação deixa de ser parte do campo social e político para ingressar no mercado e funcionar à sua semelhança. Este discurso apoia-se na prática da ameaça, isto é, num artifício retórico da reação, com ênfase aos riscos de estagnação à livre iniciativa representada pelo 'Estado do bem-estar social', ou seja, a iminência de enfraquecimento da produção de bens do consumo e do maquinário; a fragilidade do mercado perante a contemporânea organização mundial.
O Brasil, embora não seja considerado 'Estado do bem-estar social', mas sim expressão de um débil populismo assistencialista, adota, basicamente, a mesma retórica neoliberal, atribuindo à participação estatal (em políticas sociais) a fonte de todos os males da situação econômica e social, quer seja a inflação, a corrupção, o desperdício, a ineficiência dos serviços, ou as benesses dos seus funcionários.
Defende uma reforma administrativa, fala em reengenharia do Estado para criar um 'Estado mínimo', afirmando ser indispensável essa reforma, sob o perigo de o país não preservar seu ingresso nessa suposta nova ordem mundial.
A retórica neoliberal atribui papel estratégico à educação, determinando-lhe por objetivos fundamentais a co-dependência da 'educação escolar' à preparação para o trabalho, e a pesquisa acadêmica ao imperativo do mercado ou às necessidades da livre iniciativa.
Assegura que o mundo empresarial tem interesse na educação porque deseja uma força de trabalho qualificada, apta a competir no mercado nacional e internacional. Proclama uma nova 'vocacionalização', inserida em método de uma profissionalização situada no interior da formação geral, onde a aquisição de técnicas e linguagens informatizadas adquire relevância na condição de pressupostos de mais aprimorado conhecimento da matemática e ciências afins.
Valoriza os sistemas de organização, o raciocínio de dimensão estratégica e a capacidade de trabalho cooperativo.
Por isso mesmo, é muito importante observar: na sociedade contemporânea a ciência se transforma em capital técnico-científico. E as grandes empresas controlam a produção científica, colocando-a a seu serviço de diversas formas, quer pelo controle de patentes de produtos de tecnologia científica quer mediante aguda percepção das novidades, utilizando-as e antecipando tendências no mercado; ainda por meio da pesquisa científica industrial organizada na própria empresa; e controlando os denominados pré-requisitos do processo de produção científica, ou melhor esclarecendo, a escola (em seus níveis fundamental e médio) e a universidade.
O objetivo é a adequação escolar à ideologia dominante. Esta precisa sustentar-se também no plano das visões do mundo. Por isso, a hegemonia passa pela construção da ‘realidade simbólica’. Em nossa sociedade, a função de construir a ‘realidade simbólica’ é, em grande parte, preenchida pelos meios de comunicação de massa. Porém, a instituição escolar tem papel relevante na difusão da ideologia oficial.
O problema para os neoliberais é que o pensamento dominante tem convivido com a reflexão crítica nas diversas áreas do conhecimento e nas diversas práticas pedagógicas alternativas dialogando entre si.
Nesse panorama, tornar o ensino vocacional educação para a competitividade é reforçar o controle, no cumprimento mais eficaz de sua função reprodutora da doutrina hegemônica que se pretende perpetuar.
(Caos Markus)
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