Se é para chorar eu não desperdiço lágrimas: me arrepio todo e, passional como um latino autêntico, mergulho em pranto com “Perhaps Love”, no vozeirão hispânico de Plácido Domingo , mui bem temperado com veludo country do sussurro romântico de John Denver. E, por mais que queira dar ouvidos à mensagem da “folhinha”, advertindo-me com brandura - “Não se apegue ao passado. O importante é de agora em diante” -, eu sei é que Piazzola me faz lembrar uma outra época de um outro lugar onde jamais estive; “Adios Nonino” é comovente “Verano Porteño” faz de mim um estrangeiro, quase que à maneira de um Camus; o bandoneon do argentino enleva minh’alma, assim mesmo, com direito à apóstrofo parnasiano sem modernismo algum, mais Bilac que Raul Bopp.
Misantropo, ou quase isso tenho alguma aversão ao lugar-comum vulgar e erroneamente denominado “sociedade”. Essa paúra ,esse desespero de gentes hostis, essa maldade reinante...isso tudo jamais me faria chorar. Sou mesmo um sentimental e acho isso bastante natural, porém, sou avesso às lágrimas de crocodilo desse bicho-homem, besta-fera que quis inventar um mundo difícil e cruel só para justificar a piedade e a justiça; ora, não haverá nada mais justo que a exata noção de equilíbrio, de harmonia, atributo que da divina criação parece apenas humano ser não mais conservar. (Marcus Moreira Machado)
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