Reunidos em superior conselho, homens ditos de boa vontade deliberaram a redenção da singularidade racial do seu povo pela rendição dos não poucos bárbaros que antes, mas muito antes mesmo, decidiram o extermínio lento e gradual dos seus conterrâneos. Firmes em seus propósitos, a decisão, irrevogável, apontara as causas intrínsecas, as extrínsecas, as análogas e as metafóricas, e, obviamente (sempre obviamente) as soluções urgentes, a curto prazo, inadiáveis e irreversíveis (além de irretratáveis). Extinguiriam-se departamentos ociosos e instituiriam-se divisões fundamentais à consecução de diretrizes elaboradas na meta prioritária do desenvolvimento sócio-econômico, com a eficaz retração do consumo e a efetiva majoração nos ajustes fiscais nos patamares compatíveis com o progresso auto-sustentável e desvinculado de reformas drásticas e típicas da heterodoxia.
Dúvidas não pairaram nas privilegiadas mentes acadêmicas dos profetas aquinhoados com a superioridade intelectual atípica nacional. Cônscios, eles compreendiam mais que todos o papel missionário que o destino, a sorte e os desígnios históricos lhes reservaram. Tratava-se mesmo da mais pura identificação dos dotes naturais e circunstanciais mais próprios aos impróprios, isto é, nada é como nada foi, e como nada será além do que essencialmente encerra toda a possibilidade de ser e, por isso, tão somente por isso, sempre deveria ter sido, e se não foi é porque o caos tomava assento no trono da fecundidade, aniquilando, quase, as probabilidades.
Se o lema maior era o consagrado à veracidade do adágio popular "não conte com o ovo antes da galinha" eis que certamente a extensiva e ostensiva criação dos galináceos garantiria, enfim, a suculenta gemada de que precisava a moribunda nação eleita sobre a terra; eis que um dia alquem assumiu definitivamente a sua porção divina e derradeiramente proclamou: "Ainda que tardia, ay que endurecer-se mas sin perder a independência das minorias étnicas que constituem as massas populares de todos os trabalhadores de todo o mundo, unidos, porque quem sabe faz a hora ou a morte".
Comida vitaminada e proteica do fast-food no anglicismo que fez do cheese-bacon-salada o melhor pão com mortadela da rede nacional de botecos pelo país afora, eis o que faltava ao povo imberbe, eis do que carecia a prosopopéia pátria, eivada de talento no mais inimitável estilo da Lavoisier: nada se cria, nada se perde; o lixo é reciclável em comida que a gente não quer só, a gente também quer diversão, a gente "queremos" mais culturas, bienais nos museus vivos do Ipiranga, do Rebouças e da Praça da Sé. E por que não? Afinal, diploma nunca vestiu a camisa de todo o mundo: e já que uns poucos (não mais que dois por cento) da população planetária possuem além dos 132 de Q.I., o caso e o jeito é a imensa, a esmagadora maioria preexistir na contingência dos profetas conselheiros que - se lá estão - é porque ultrapassaram a barreira dos sons guturais da nossa subespécie.
Quem mais de sã consciência se atravessaria a falar mais alto em tradução bilíngüe contra os poliglotas da incilização que triunfara no caos?! Obviamente (sempre obviamente). Zoroastro esteve sempre muito convicto da certeza insofismável, incontestavelmente e inelutável (?): depois da tempestade vem a inundação; e que então, aqui e agora mutirões de frentes de trabalho reordenariam os mandamentos e as normas, os preceitos e os conceitos, os cânones e os ícones, reorganizando a idiossincrasia nacional, em golpe fatal, duro e presto, na reaproximação das hordas delirantes e dispersas, confinadas todas nos limites do território inexpugnável dos meridianos, restritas à clausura das reservas limitadas pelos trópicos.
Os anciãos rejuvenesceram, diplomados no saber universal dos mestrados existencialistas, educados na mais alta corte dos mais renomados mecenas. Ainda havia gente de bem; os que enxergavam pelo estímulo da terceira visão ainda podiam vislumbrar os ensinamentos superiores da antiga profecia, requintando-a, transformando-a, em adaptação ou mutação imprescindíveis ao serviço público. E por isso, obviamente (sempre obviamente) a vaca sagrada era outra vez banida, por profana, por ultrapassada, por. . .
Por que foi mesmo que se reuniu o superior conselho? Para acertos na economia doméstica dos seus pares? Para estipular o salário-base do mercado informal da mão-de-obra? Por que, Zara?! Por que é que o caos é mesmo necessário? Purgação?! Sobrevivência das espécies?! Mas, não foi, obviamente ( é sempre necessário um obviamente), Charles Darwin quem discursou daquela maneira quase mesquinha?
Com tantas dúvidas, só mesmo quem não tem mais nenhuma, e possui o dom inalienável de alienar duplamente a sua própria consciência, conclamando fênix a renascer das cinzas de um país de um país caótico!! (Marcus Moreira Machado)
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