REMETENTE e DESTINATÁRIO alternam-se em TESES e ANTÍTESES. O ANTAGONISMO das CONTRADITAS alçando vôo à INTANGÍVEL verdade.
domingo, 30 de agosto de 2009
SEXTA-FEIRA, 4 DE SETEMBRO DE 2009:"ESTADO DELIRANTE"
Ao gosto dos mais eruditos, assim compara a expressão latina: "Nec solo nostro imperio milita re credimus, ilos, qui gladiis, clypeis, et thoracibus nituntur, sed etiam Advocatos: militant namque causarum patroni, que gloriosae vocis confisi munimine, laborantium spem, vitam, et posteros defendunt."
Obviamente, como nem o Português ainda dominamos, e de cultura somos ainda mais pobres do que outras carestias várias, melhor mesmo é assumir a ignorância e identificar a fonte da latinada: "Dicionário de Latim Forense", de Amilcare Carletti. Trata-se de uma dessas obras com que determinados sujeitos gostam de usar e abusar com "adjetivo', pensando impressionar magistrados que se dão por felizes quando têm tempo de ler, em rebuscadas linhas de 'portugueis tupiniquim', as 'exordiais', os 'embargos infringentes' e aflitivos da montoeira enorme de processos e processos, e mais processos. Assim, como de médico e de louco, como de advogado e de tapado todo mundo tem um pouco... está na hora de termos, também, um pouco de tradutor e intérprete, e passar para o povaréu, que se impressiona com qualquer coisa - sempre que dita com ar professoral -, o significado da aguçada observação do filósofo (será mesmo?), autor das belas palavras, que são lindas justamente porque a sua beleza consiste no efeito, na impressão, muito mais que realmente pela expressão. Mas, vamos lá: "Não acreditamos que no nosso império militem somente aqueles que se tornam fortes (no manuseio) das espadas, nos escudos, nas coraças, mas também os advogados; porque militam os defensores das causas, os quais confiando no auxílio da palavra gloriosa, defendem a esperança dos atormentados, e a vida e a posteridade."
Êta beleza! De posse de uma carteira da O. A. B., das prerrogativas do advogado (mais encontradiças no Estatuto da O. A. B.), e de um comentário em latim, como é o caso desse belo exemplar, qualquer um do povo poderá sentir-se convicto de estar cumprindo o honroso mister de distribuir... arrogância e prepotência. E daí? Quem não tem cão caça com gato, e quem não tem dinheiro gasta com poder. E é por esse e outros motivos semelhantes que eu sinto falta da Alice da minha infância pobre no interior do meu agreste e recôndito ser. No país da fantasia, estória era só o que a minha mãe me contava, parece que já antevendo o meu estado delirante, vítima de hipersinestesia, notívago e insone. Hoje, de olhos abertos, arregalados, minha vigília é para não crer em fábulas econômicas, em onomatopéias discursivas, em ideologias desvairadas de ilhas fantásticas. (Marcus Moreira Machado)
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