Eu quero morrer na praia, insistindo que a onda é minha. Eu sou muito mais que teimoso, bastante o suficiente para dizer que ganhei. Não sei de que, mas certamente ganhei; se tem de existir um perdedor, então que ele não seja eu. Entregar o jogo não tem cabimento. Torcida para vaiar é o que nunca falta; porém, festejar aquele temendo gol de placa, dizendo "é isso aí garoto... pisa fundo, estamos com você", é algo muito raro, porque todo mundo quer ser artilheiro nessa pelada de várzea que é a vida mesquinha dos provincianos. Mais fácil é a galera sentir-se forte e varonil com o chute que dá no suposto adversário.
Que espírito é esse, o que anima os medíocres a confinar em inaudito exílio todos quantos não são conformados com a peleja do faz-de-conta?! Por que essa mentalidade tacanha a querer expurgar em covarde assepsia?! Como explicar que, ao vestir a carapuça feita sob encomenda, a velhacaria não se dê conta de sua pequenez?!
Ah, meu amigo de fé, meu irmão camarada...! Você estaria ao meu lado para o que desse e viesse, sempre que eu lhe dissesse apenas o que lhe fosse aprazível aos seus ouvidos sensíveis e aos seus lábios delicados que encerram essa sua língua ferina de alcoviteiro nato. Não é assim, hein?! Que nada, você está sempre pronto para dizer que eu sou um inconseqüente, que só sei agredir todo mundo, de graça, por pouca coisa... Mas, o que você não quer e não pode admitir é a inconveniência das minhas palavras quando elas vão contra os seus mais vis interesses, todos aqueles que lhe garantem um duvidoso prestígio junto aos seus pares.
Se há algo de que eu já esteja muito cansado é de ter que considerar que no fundo, no fundo todo mundo é bom. Definitivamente, não sou escavadeira nem arqueólogo para ficar revirando tanta podridão até achar algo que preste, alguma coisa de real valor. E se você me critica por aí, dizendo que, além de você mesmo, ninguém me tolera, que eu sou mal visto por fulanos e sicranos das mais altas patentes... Se tudo isso que você diz a meu respeito é dito na minha ausência, perceba o quanto eu incomodo por não ser aquilo que você tem certeza que é - um adulador de primeira, que só faz o joguinho sujo do compadresco político-partidário, político-profissional, político-político, sempre pretendendo assegurar o seu lugarzinho no banho de sol do cativeiro a que está submetida a sua consciência, condenada à prisão perpétua pelos donos da razão aos quais você vendeu a sua própria.
Se eu faço tanta questão de 'ofender', de 'agredir', é porque no raso, no raso eu não preciso procurar o que fede: você! Você é mal cheiroso, 'troca de roupa e não toma banho', fingindo esperteza que não possui, asseverando o que não conhece, conspirando o próximo golpe, o imediato conchavo... ... ... (Marcus Moreira Machado)
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