É muito difícil separar o joio do trigo, quando tudo parece ser joio fazendo um esforço enorme
para parecer trigo.
Nós brasileiros, promovidos a fidalgos, com direito a escolher em horário nobre da propaganda
eleitoral gratuita os mandatários da nação, somos isso sim forçados a assistir um espetáculo
muito pobre em imagem e total ausência de ação. Padronizados, reduzidos a insignificância que
talvez façam alguns por merecer, uma legião de candidatos desfila pela miséria nacional, ora
prometendo e ora prometendo que nada vai prometer, essa a estratégia ainda mais vazia do
palanque eletrônico com coreografia limitada pela Justiça Eleitoral.
Sob o pretexto de evitar o abuso econômico por partidos aquinhoados com verbas publicitária
oriundas de indeterminados e seletos grupos, o que de fato conseguiu a recente 'legislação' foi
entediar mais (como se isso fosse possível) o respeitável público superior a 180 milhões de
palhaços que acotovelam-se nas estreitas catracas do Gran Circo Brasil, todos a espera de
uma produção melhor cuidada.
Merecemos no mínimo cenas mais prazeirosas, compatíveis com o refinamento dramatúrgico de
um Renato Borghi ou de um Gerald Thomas. Afinal, por que tanta mediocridade? É necessário
repetir que o povo gosta de luxo? Então, somos ou não também 180 milhões de críticos?
Brasileiro que é brasileiro adora discurso - ouví-lo e fazê-lo. Temos esse dom dos artistas, a
criatividade, a verve. Se assim não fosse não seríamos tão imaginosos na assimilação da
compulsória convivência com duas moedas simultâneas, desafiando leis básicas da Economia e
fundamentais preceitos constitucionais. E, por isso tudo e mais um pouco, buscamos purpurina e
muito brilho, bastante longe do mínimo tamanho reservado ao formato três por quatro da
propaganda eleitoral, onde a imaginação foi suprimida, dando lugar a instantâneos que apenas
traduzem um sobrehumano esforço no sentido de convencer a platéia.
Se há algo de admirável no norte-americano é, certamente, a sua inegável democracia interna.
Os gringos não se envergonham de ser lobistas, quando isso deva ser o mais correto e sincero
num político. Cá entre nós, o mesmo procedimento é condenado como conduta desonesta. Um
absurdo! O parlamento não deveria existir se não existisse para grupos exercerem pressão uns
sobre outros. Negar essa sistemática é ser o verdadeiro populista demagogo: aquele que não
assume a benéfica qualidade de corretor dos interesses nacionais, vendendo o seu peixe por um
bom preço, não é político, porque não sabe o que é 'polis'. E, no caso, todo bom político-corretor
(ou lobista) necessita de espaço, como qualquer outro camelô que na Praça da Sé expõe e vende
o seu artigo colocando a boca no trombone. Eis o desafio: informar e formar opiniões. No
momento, a novela política está mais assemelhada aos melodramas mexicanos, sem nenhuma
graça, sem nenhum encanto.
Diante de tanta pretensão descabida, os candidatos a alguma coisa por esse país afora não
conseguiriam nem um trocadinho se dependessem de sua 'arte' para ganhar a vida, como fazem
alguns repentistas no Nordeste brasileiro ou alguns negros nos subúrbios novaiórquinos. De ôlho
no texto, via de regra esses candidatos mais parecem um bando de estrábicos, com a visão
dividida por entre as extremidades da telinha da tv, perdendo toda a espontaneidade, mal
acostumados com aparições mais próprias aos atores e jornalistas.
Mal produzidos, mal dirigidos, os candidatos a ator televisivo morreriam de fome não fosse a
oportunidade de também se mostrarem nos chaveirinhos, canetas, bóttons e uma infinidade de
bugigangas do tipo 'é de graça eu também quero'. Sozinhos no picadeiro, esses artistas
mambembes são arrelias de pouquíssima bilheteria, co-produzidos pelo zelo da falsa democracia
que pretende dar a ilusória igualdade de oportunidades a petistas e dentistas, a adélias e
centopéias.
Essa idéia meio socialista de querer acreditar que todo homem é igual impregnou legisladores e
juristas pátrios! E, como tudo o que nós brasileiros consumimos o fazemos com atraso de pelo
menos vinte anos, ainda não descobriram que 'competitividade' é a trajetória salutar dos
competentes. Essa visão esteriotipada coloca num balaio de gatos atores da megalomania e neo-
colonizadores do ideário nacional. Se com tanta parafernália outra meia dúzia de gatos pingados
tem mesmo o que mostrar à nobreza do nobre horário, imediatamente sucumbe à sonoplastia
sofrível de 'jingles' sem inspiração, de respiração ofegante a cada pausa dos discursos
concretistas. Marchinhas cederam a 'raps' de sarjeta no esgoto do esgotamento cívico da
incivilizada nação brasileira, lombardis e cidmoreiras de alto-falantes rodoviários disputam
barulho com o contra-regras.
Raríssima oportunidade de assistirmos um bom tele-teatro... e mais mediocridade! Tem-se a
impressão de estar numa sala dos milagres, com retratinhos mil, todos espalhados e criando um
cenário de pagador de promessas.
Nem nós nem eles merecíamos essa pobreza, já tristes que estamos em meio a tanta miséria
insistente em fazer desse povo um outro triste espetáculo!
Tiraram-nos o pão, agora tiram-nos o circo.(Marcus Moreira Machado)
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