Dogmas e axiomas definitivos que não observam a “desordem natural” de uma cultura como a nossa, a brasileira, estarão sempre fadados ao desparecimento precoce . Aliás , num período como o atual , marcado por uma profunda crise social e econômica, quando satisfazer os prazeres mais imeatos e fundamentais é a conduta próxima e comum a tantos quantos procurem ocultar a formidável depressão existencial a atingir toda a sociedade , torna-se impossível alguma concepção baseada em conhecimentos cuja profundidade negue o sentido de extensão pelo acúmulo e pela sucessão de instantâneos , pela soma , enfim, de ideologias e representações fragmentadas no tempo, mas reunidas na diversidade própria ao conhecimento inatingível , porque infinito.
Muito provavelmente, a revisão constante será o reconhecimento de que processo ocorre sempre por etapas, em admissão de fatos e circunstâncias supervenientes e imprevisíveis . Daí a sabedoria de quem possa identificar na multiplicidade o valor do conjunto, percebendo e respeitando igualdades , e promovendo diferenças de maneira tal a individualizá-las como característico como determinante de uma dada categoria de pessoas.
Eis, talvez, o maior pecado das elites neste país: generalizar . Porque temos um único idioma em tão vasta extensão territorial que é a nossa, não separados por dialetos regionais nem divididos sustancialmente por disputas étnicas, a falsa idéia de um singular “universalismo” tem sido o substrato para políticas globalizantese inaptas a enxergar o elemento determinante da nossa evolução ,ou seja, a “mestiçagem” e os seus frutos ou as suas expressões aparentemente impregnadas de indensatez - as culturas várias, os múltiplos estilos, a pluralidade da “linguagens” .
Pretende-se aqui - -e, via-de-regra, no mundo todo - - a uniformização como resposta aos anseios da sociedade. Ora, se nem angústias podem ser padronizadas , certo que nem as suas origens e causas nem as suas manifestações se apresentam de forma única, como crer em projetos de governo insensíveis à prolixidade de um povo como o nacional ? Muito antes dessa pretensamente inovadora era das negociações, onde os extremisnos são previamente condenados, quando a integridade cede espaço à aceitação da melhor ( e não menos cínica ) conveniência individual., há mais tempo do que essa hipotética “modernidade”, um americano do norte , empresário bem-sucedido em tudo o que empreendia, teve os seus dotes de Midas cabalmente arruinado num empreendimento aqui neste país, barroco por excelência.
Ford, querendo fazer frente à concorrência no mercado da borracha natural , pensou o óbvio: explorar o produto na Amazônia brasileira. E ,pagando salários muito superiores àqueles pagos pelos “coronéis” da região, recrutou caboclos do Norte e Nordeste que, além da melhor remuneração, foram abrigados numa “vila” pré-montada e trazida para cá sob o aparato de propiciar aos trabalhadores alojamento de primeiríssima qualidade , com a oferta de alimentação de país desenvolvido , isto é, protéica e vitaminada. Mas, para surpresa do empresário, duas “greves“ fizeram-no desistir da empreitada. Os caboclos culturalmente habituados à rede( costume dos antepassados indígenas) não suportaram dormir nas camas-turcas a que a “moderna” civilização de há muito está acostumada. E, depois, comeram com repugnância o que para cá trouxeram os norte-americanos como alimentos da mais rigorosa nutrição : queriam e exigiram os trabalhadores brasileiros o jabá, o charque, a carne-de-sol, com farinha .
Não bastasse, Ford não compreendera que os seringais desenvolviam-se à sombra das copas das grandes árvores nativas da Amazônia, e daí a sua boa qualidade . Porém, tendo estabelecido as esteiras de produção, no que se conhece por produção em série, o empresário pensou lograr êxito de igual forma de plantação de seringueiros . E foi o que fez : mandou derrubar as grandes árvores para poder plantar os deus seringais também em série . Fracasso .
Comenta-se que Ford, desestimulado, se perguntava que gente era essa que preferia dormir em redes, que rejeitava boa comida para engolir carne salgada ao sol .
O norte-americano , provavelmente, do Brasil só ouviu falar no Rio de Janeiro , culturalmente mais próximo aos Estados Unidos .
Passado o tempo, é outra a perplexidade : que governantes são esses , tão distanciados do barroco brasileiro , incapazes de perceber qual o real sofrimento do seu povo , mais próximos que estão do primeiro-mundo pelas supersônicas aeronaves do poder ?!(Marcus Moreira Machado)
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