Por que essa idéia fixa de que o presente é tão marcante e passará, inevitavelmente, para a posteridade? Somos todos incapazes de lembrar que o pretérito sempre foi conjugado no futuro. E queremos acreditar que o último, o mais recente golpe é o derradeiro e o decisivo. Nada é definitivo, isto sim, como nada é definido, com certeza. Mas, não! tolos que somos enxergamos o auge naquilo que ainda é o primeiro passo, tanto quanto professamos o apocalipse no que não passa de um tumulto. É a ansiedade típica do homem político, onde tudo deve ter uma séria e grave por existir.
Nessa linearidade, tornamo-nos visionários de fatos corriqueiros, na defesa intransigente da arrogância peculiar à nossa pequenes. Pois, então, tudo prometemos - o que os outros não cumpriram e o que também não cumpriremos. Um caminho curto para a discordia, e todos discordando por pura retórica. Alternadamente, pessoas, grupos sucedem-se uns aos outros na prerrogativa da verdade inconteste; simultaneamente dizem as mesmas coisas em linguagens aparentementes diferentes, uns acredianto que agora é a sua hora e a sua vez, outros na pausa dos que em breve estarão de volta. Não entende-se quem realmente já esteve e se já esteve; não se sabe quem retorna e se retorna mesmo.
Políticos vão, políticos vem. Todos, qual mariposas, gravitam em torno da ofuscante luz do poder. Há os que pretendem irradiar luz própria, clareando a caminhada de quem almeja mas não sabe respirar mas aliviado. Há outros, aqueles que viram arcos-íris e vestem-se de camaleão, no inverno crepuscular das gentes opacas. Que diferença substancial pode distinguir este que assume um governo e aquele que o deixa? Nenhuma. Somente um lapso de tempo os separa, pois que nos bastidores se revezam em protagonista e figurante, a apresentarem a peça que os aplaudirá, a assistida por uma platéia que jamais perde uma encenação do seu próprio enredo. Quem deixou o segundo ato no pano de fundo, prepara a nova maquiagem do "avant-premier"; quem volta nunca se foi Se não parece assim é porque o trabalho do contra-regras ilude, em sons mixados, os discursos escritos pelo único autor - o povo. Mas, o povo. . . ! O povo não percebe a troca de cenário, habilmente manipulada para o show continuar. Entre ovações e apupos, êxtase e delírio, pranto e gargalhada, dá o povo o colorido do moto contínuo.
Ah! como gostaria de ouvir ópera. Rigoleto, Tosca. . . qualquer coisa que não desviasse a minha i-n-t-e-n-ç-ã-o, uma ária de Bach, talvez, ou Stravinsky, na "Sagração da Primavera". . . tudo que me permitisse jamais crer na retórica, tudo o que me fizesse prostrado pela apoteose.
Como eu queria não assistir esses seriados melodramáticos da política nacional, onde chora hoje este que rirá amanhã. Ou, pelo menos, não ler o livro repetido da "Volta dos que não foram", e não me expor à chateação de dizer: votei em você na última eleição, agora voto em seu "adversário", só porque ele faz cara de adversário.
Espere aí, lembrei de uma coisa. Fulano não foi seu secretário, oito anos atrás? Você disse, eu tenho certeza, que ele era o melhor! Espera mais um pouco.Você aí, secretário. Já não foi também oponente do vice do seu Prefeito?
Afinal, você nunca precisou de partido, pois tinha quantos queria, na hora em queria.
Sabem, vocês me constrangem. Continuo achando que já assisti mil vezes o seu filme, "A volta dos que não foram". Tá legal, o problema é todo meu, e só a mim cabe resolver. Não vale a pena perder o sono quando, tranquilo, ronca o povo esfomeado mas contente. Clic, desligo o vídeo. Amanhã, só por curiosidade, confirmo se aquele do quinto escalão volta - mais uma vez - ao primeiro time.
Boa noite. Durmam com os anjos, que o diabo está a solta. E boa sorte pra nós todos, viciados que somos nesse jogo de azar que é governar e ser governado.
Enfim: T R U C O! ! ! (Marcus Moreira Machado)
Um comentário:
O devir vem cumprir exigência do toque e realidade,porém a um tempo em que se tornou difícil a compreensão devido ao fato de ausentar-se chegado futuro ao qual sempre esperou.Insiste em responder presente a chamada do não existir em si e no outro.Por quê??
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