Todo homem tem o seu preço, é o que dizem. Se assim é eu penso então se sou tão enjoado a ponto de me supervalorizar e não me vender por aquele que julgo ser preço de banana, uma verdadeira ninharia. E olha que ando mesmo precisando muito menos do que o 'bendito é o fútil'. No entanto, movido pela vaidade, talvez, não sou de me contentar com pirulito na boca de criança, desses que fazem calar a boca de marmanjo chorão; quando creio que algo deva ser meu por direito, corro atrás.
Pelo jeito, muita gente anda se vendendo em baixa na cotação da auto-estima. Uma subespécie de inflação, é o que parece; o valor nominal da dignidade individual está defasado, e valor real nem se cogita. É dessa forma que órgão público virou entidade filantrópica, assistência social, caridade a que se agradece como o faz o mendigo por um prato de comida. Por isso esse péssimo hábito de se fazer de coitado para merecer o resto de comida; por isso essa coisa idiota de chamar de "doutor' qualquer um que esteja de traje esporte fino, na esperança de sobrar algum.
A miséria da república lotérica conseguiu fazer da outrora pirâmide social duas retas paralelas entre si, dando a impressão, própria à ilusão de ótica, de que nobreza e vassalagem caminham agora definitivamente juntas, encontrando-se ao final num só ponto de convergência. No caso, seria mais prudente olhar as múltiplas facetas do poliedro ao invés de apenas observar os dois lados da mesma moeda. Porque, cara ou coroa, a moeda ainda é do rei, tanto faz, tanto fez.
O leiloeiro oficial da desgraça alheia está batendo o martelo para quem dá menos, ou melhor, para quem se dá por menos. E quase sempre sob a promessa de que a peça ainda valerá muito quando mudar o dono do pregão, quer dizer, do parlamento, do governo, da presidência. Por isso, indigentes de todo o mundo, uní-vos! A palavra de ordem é 'abaixo o avesso do avesso', tudo pela transparência do telão auriverde nas praças da República ao som da alegria-alegria das batucadas afoxé regada a muita "pitu", que por sinal é camarão. Se somos tão afros por que ganhar dos escandinavos, não é mesmo?
Entre nós, ao ouvirmos a palavra "Não vim trazer a paz à terra mas a luta. Quem não for por mim, será contra mim", a atribuimos a algum cântico gregoriano-petista, nessa que insiste em ser a nossa vocação para imitar Victor Hugo, em "Os Miseráveis". Imitar é muita lisonja, mais corretamente deveríamos entender "papagaiar". Mas, tudo bem, dizem sempre que o Brasil é um país de contrastes pela sua enorme extensão territorial, um país continental, enfim. E isso, convenhamos, não é mentira, pois num mesmo telejornal marinho - esse também chamado de "doutor" -, quarenta minutos gritam Brazzziiilll!!, enquanto cinco minutos murmuram o aumento em quinze por cento na mortalidade infantil brasileira. Ou melhor, brasssiiillleeeiiira ... ....
Ora bolas! A gente devia é ouvir um tango de Piazzola e descongestionar o nariz com receita sob prescrição médica de Maradona. Não, não é nada disso, eu estou meio confuso, Sócrates que é médico, assim como Tostão. A gente nem precisa de remédio para emagrecer nesse nosso joguinho que não é de quatro em quatro anos, que é de todo santo dia, até mesmo em dia santo, porque a gente não vale nem um vintém. Afinal, eu ando mesmo é pensando em preencher cheque de 01 pataca, que equivale a 320 réis. Será que o Banco do Brasil aceita? E se não aceitar? Eu terei de explicar que é moeda antiga, de prata, com lastro garantido. E, sinceramente, eu não admitirei que ninguém me chame de meia pataca, pois como já disse, o meu preço é bem maior. Não adiantará me dolarizar, eu não aceitarei empreguinho de procurador no labirinto das secretarias de diretorias com secções e departamentos das intendências municipais. Eu quero é ser ministro no Parlamento da Comunidade Européia, ainda que sendo americano do sul do equador, um 'botina amarela' herdeiro da nobiliarquia dos cafezais que morreram com o barões nas cidades mortas lobatenses.
Eu fui criado nos preceitos da T. F. P. - a Tradição, Família e Propriedade. Agora a propriedade acabou, a família acabou, a festa acabou... E agora José? O que fazer? Somente restou a Tradição e esse meu nome escrito em sangue azul. Pois, vendo o meu nome para algum novo rico que precise justificar a propriedade com a tradição que ele não tem.
Quem dá mais? Eu ouvi 10.000?! Quem dá mais? Alguém disse 25.000!
É pouco. Observem que não é um nominho qualquer, descende de Fernão Dias, é nome de logradouros, de ruas, avenidas e marginais nesse beco sem saída da minha vida inteira.
Eu ouvi 50.000? Quem dá mais? É nome com estirpe, dos fundadores da cidade, ou quase isso. Quem adquirir esse nome o terá garantido em certidão pública, com direito a criar nova dinastia.
Ah! Raimundo... Mundo, vasto mundo... Se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, mas não uma solução! Vocês querem dinheiro?! Vocês querem dinheiro?! Então cuidado, porque não existe bicho papão, mas existe papa-tudo na telinha da TV, baú "vem que aqui tem".
O que eu não desejo, não quero de forma alguma, é ser mais um judas e me vender por tão pouco.
Bato o martelo. O leilão está suspenso. (Marcus Moreira Machado)
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