A palavra 'povo' designa, antes, os que são governados, em oposição aos detentores do poder.
Em seguida, é 'povo' os que se opõem aos ricos, aos opulentos, aos possuidores de renda, de capitais. Nesse sentido, o povo é a massa dos pobres contrária aos ricos.
Não sendo o povo uno e um, contudo constituído de elementos heterogêneos e de interesses conflitantes, o exclusivo fator da sua coesão será a "oposição a".
Consequência imediata, o que constitui o povo é a 'hostilidade'.
Por isso, a história das revoluções é sempre a história de um inimigo que jamais será extirpado, porque frequentemente renasce.
Grosso modo, é hoje, tanto quanto em qualquer período da história da "civilização", o 'terror' que faz o povo existir. Ainda que esse terror seja sublimado, mesmo que vigilância e punição se façam presentes mais psicologicamente do que fisicamente.
O 'terror' é prática política. Através dela é que o 'povo' se define.
Assim, diante de eventos indesejáveis à manipulação, deverão os mal denominados "inimigos internos", os "traidores", ser aniquilados. Tudo em nome da preservação da 'identidade revolucionária'.
Aquele que tem uma outra opinião não somente é expulso, mas é alvo das mais severas sanções morais.
O conceito de moral reclama autonomia. Todavia, exatamente aqueles que mais têm a palavra 'moral' na boca, são os que não toleram a autonomia.
Neste contexto, falta atualmente um 'sujeito histórico', enquanto agente transformador da sociedade e da consciência. Essa ausência é efeito da "integração" do proletariado na sociedade da "administração total"; entre nós brasileiros também conhecida como 'orçamento participativo', 'governo dos excluídos', etc., etc.
Trata-se de um modelo de sociedade unidimensional, sem oposição, sem contradição; fruto da sociedade pós-industrial.
Deste contexto, o mais grave desdobramento: sociedades sem oposição, sob o império da MORAL DO SILÊNCIO, desprovidas de sujeito ou indivíduo, fazem com que as esperanças essencialmente revolucionárias sejam preteridas até... até que surja um novo líder/agente revolucionário.
Sob essa moral, a do silêncio, o 'povo' sobrevive de alimentar os mitos revolucionários. Só, nada mais que isto.
Marcus Moreira Machado
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