O Brasil, no processo da globalização, apoiou seu desenvolvimento em corporações multinacionais, cujo segredo foi o controle da tecnologia através das reservas de patentes e do combate a possíveis concorrentes, assim como as antigas potências mundiais mantiveram dependentes as suas colônias, impedindo a formação de quadros que porventura pudessem futuramente dirigir nações emergentes.
Sabe-se que o 'know-how' não se transfere por contrato de licença. É conquistado por meio de pesquisa árdua nas salas de desenho e oficinas de trabalho, o que requer esforços próprios na aquisição de tecnologia independente.
A mera obtenção de projetos prontos para a execução nos leva, em curto prazo, a problema político de graves consequências.
Sem respeitar esta efetiva observação, o Brasil desperdiça recursos em "educação" de sua juventude, enquanto o mercado de trabalho dos engenheiros mecânicos, eletricistas, técnicos eletrônicos encontra-se controlado pelas corporações multinacionais, que, via de regra, se abstêm de contratar efetivos projetistas, gerar, ou mesmo fixar tecnologia no país. Por isso, ao Brasil tem restado mercado de trabalho para engenheiros de operação e manutenção, somente. Eis a razão da nossa imensa reserva de proletariado acadêmico.
Dessa maneira, o Brasil "internacionalizado", uma nação dominada, exporta sapatos a salários de fome, a fim de poder pagar a importação de instalações hidrelétricas ou vagões ferroviários, garantindo empregos às "metrópoles" do imperialismo e, por consequência, mantendo ociosas e subdesenvolvidas as suas próprias indústrias.
(Caos Markus)
Afastados de minuciosas e conscientes percepções, muito tardiamente identificamos a existência de uma atividade inconsciente no espírito humano.
Historicamente, é recente a análise sistematizada dessas operações mentais, devendo-se atribuir aos filósofos a responsabilidade pelo inicio da pesquisa na decodificação das estruturas psíquicas inconscientes , que, por sinonímia , conhecemos igualmente por 'subconsciente'.
A suposta identidade da vida psíquica e da vida consciente jamais ofereceu qualquer resistência a fatos provados. Fatos que nesta abordagem são resultados experimentais; quando a existência de ideias, de lembranças inconscientes são flagradas através de observações detalhadas, em comprovação de uma vida psíquica inconsciente a revelar-se como causa sobre ações do consciente.
A concretude de representações inconscientes surge objetivamente na própria ação. Portanto, a verdadeira demonstração do inconsciente reside no 'fato real' (objeto de observação) segundo o qual estados psicológicos não conscientes têm efeitos conscientes.
Inversamente, estados psicológicos conscientes não serão esclarecidos se não buscarmos entendê-los na causas psíquicas inconscientes.
A ideia de que não somente atos materiais, os atos 'em movimento', mas também as operações mentais (motivações de todas as espécies; os mecanismos dissociativos ou associativos) refogem à luz da consciência; é concepção assentada na justificativa da lógica, pelo seu poder de evidenciar o quê à primeira vista parece obscuro e contraditório.
Com efeito, limites tênues muito aproximam inconsciência e consciência, sugerindo, simultaneamente, remoto vínculo entre essas duas dimensões da mente, duplo nível do espírito humano.
(Caos Markus)
Em originária acepção, o vocábulo 'povo' define os que são governados, no pólo contrário ao dos detentores do poder. Secundariamente, é 'povo' quem se opõe aos ricos, aos opulentos, aos possuidores de renda, de capitais. Nesse sentido, o povo é a massa dos pobres antagônica aos ricos.
Não sendo o povo uno e um, contudo constituído de elementos heterogêneos e de interesses conflitantes, o exclusivo fator da sua coesão será a 'oposição a'. Consequência imediata, constituinte do povo é a 'hostilidade'.
Por isso, a história das revoluções é sempre a história de um inimigo jamais será extirpado, porque frequentemente renascido.
Hoje, ou em qualquer período da história da "civilização", o 'terror' faz o povo existir. Ainda que esse terror seja sublimado, onde vigilância e punição marquem presença mais psicologicamente, acima da ação física, o 'terror' é prática política. Através dela, o 'povo' se delimita .Assim, diante de eventos indesejáveis à manipulação, deverão os mal denominados "inimigos internos", os "traidores", ser aniquilados. Tudo em nome da preservação da 'identidade revolucionária'.Aquele que tem uma outra opinião não somente é expulso, mas é alvo das mais severas sanções morais.O conceito de moral reclama autonomia. Todavia, exatamente aqueles que mais têm a palavra 'moral' na boca, são os que não toleram a autonomia.Neste contexto, falta atualmente um 'sujeito histórico', enquanto agente transformador da sociedade e da consciência. Essa ausência é efeito da "integração" do proletariado na sociedade da "administração total"; entre nós brasileiros também conhecida como 'orçamento participativo', 'governo dos excluídos', etc., etc.Trata-se de um modelo de sociedade unidimensional, sem oposição, sem contradição; fruto da sociedade pós-industrial. Deste contexto, o mais grave desdobramento: sociedades sem oposição, sob o império da moral do silêncio, desprovidas de sujeito ou indivíduo, só fazem preterir esperanças essencialmente revolucionária, aguardando um novo líder (agente revolucionário). Sob essa moral, a do silêncio, o 'povo' sobrevive de alimentar os mitos revolucionários. Nada mais que isto.
(Caos Markus)
Em tempos idos, à época em que 'avançar' só era possível por meio de contendas, quando à personalidade eram negadas as liberdades física e intelectual da pessoa humana; era então que o 'status' imobilizava o indivíduo nas diversas categorias sociais onde estivesse integrado. A esse passado fez oposição uma nova situação social, sob a luz de teses forjadas no 'racionalismo'.
O sentimento de justiça à sociedade, em função das condições típicas da civilização moderna, foi também causa de novas perspectivas na interpretação da lei regente dessa mesma sociedade, na espera de que a justiça legal suprisse as deficiências sociais e morais da organização econômica.
Assim, a ideia da lei como algo definitivo, obra inalterável do legislador, cedeu terreno ao entendimento contrário : o de que a lei jamais será concluída, devendo acompnhar sempre o desenvolvimento social.
A inovação ocorreu na compreensão de que para superar as lacunas da norma escrita, o seu intérprete recorreria aos mesmos elementos em função dos quais o próprio plano organizatório da vida social se processava, numa livre investigação, fundada em dados objetivamente existentes. Invstigação, ressalta-se, cientificamente sistematizada no direito a regular situações até então ignoradas.
Ainda hoje, esse "livre convencimento" deve nortear o intérprete da lei, o intérprete da sociedade. Todavia, estamos prestes a novas restrições da liberdade, e, por consequência, da personalidade. Isso porque, agora, o 'convencer-se' tem levado o 'intérprete' da lei a fazer o que o legislador de outrora acreditava ser a sua atribuição. E proferindo sentenças e decisões que pretendem inalteráveis, ambos julgam-se , paradoxalmente, exclusivos detentores do pensamento "livre", colocando sob suspeita e investigação todo o complexo processo de conhecimento.
(Caos Markus)
Se há mesmo mais mistérios entre o céu e a terra do que a filosofia pode imaginar, tudo então só é misterioso quando vão é o pensamento. Ou, confirmadamente, se há diferenças cruciais entre 'prognose' e 'profecia', nada mais evidente do que a nítida transparência ocultada sob o manto da hipocrisia.
Disso, a clareza de tornar muito próximo o quê se pretende demonstrar ainda longínquo. Por isso, a aritmética do prognóstico, a desmistificar a alquimia do visionário.
Ou, trocando em miúdos: mistérios existem para quem, ou por preguiça ou por comodismo, aceita ser mero espectador, mesmo intitulando-se, ou permitindo ser denominado, co-partícipe que opina e escolhe; que escolhe e decide.
Porque, ruindo o fascínio que o banal suscita, ninguém usará lentes escuras em quarto fechado e com a luz apagada. O podre no reino de Amsterdã, ele saberá, é mal-cheiroso por sua exclusiva culpa: a culpa de quem optou pelo (in) crível e negou tornar possíveis possibilidades de múltiplas combinações.
(Caos Markus)
"(...) a primeira condição para ser 'dono', para ser 'proprietário', é a de o homem saber mandar nos seus próprios sentidos, abstendo-se do fáceis prazeres. O trabalho elevado à altura de dogma religioso."
'O mal absoluto é o Estado', entende o anarquista.
O anarquista propaga: 'a humanidade reduzirá a zero a ação dos governos'
Na concepção de Proudhon, seria inevitável a evolução da hierarquia para a anarquia, pelo estabelecimento de uma coordenação sem Estado.
Sentem, os anarquistas, verdadeira repulsa por todos os sistemas puramente ideológicos, e, sobretudo, pelas utopias.
Para eles, o movimento é a essência do espírito, a única verdade, tal qual ocorre na Natureza. E da mesma maneira, a civilização é essencialmente histórica, sujeita a progressão, a conversão, a evolução e a metamorfose.
Diversamente dos economistas, os anarquistas não crêem que a sociedade já está organizada a partir de uma estrutura planejada. E diferentes dos socialistas, os anarquistas defendem: o desenvolvimento humano, a partir do trabalho, está sempre a caminho de se organizar, desde o começo do mundo, e essa organização se desenvolverá até o seu fim.
Ilimitada repugnância sentem os anarquistas frente aos articuladores do que eles chamam de 'panacéias sociais'. Por efeito, combatem com veemência "os remédios eficazes para os males da sociedade".
Eles são incrédulos quanto a soluções imediatistas, concretas somente à vista dos resultados obtidos e dos fenômenos em curso de realização.
Na prática, a descentralização é uma máxima dos anarquistas, pelo desaparecimento do sistema político ou governamental no sistema econômico, reduzindo-o, simplificando-o, para ir suprimindo, uma após a outra, todas as engrenagens dessa 'grande máquina que tem o nome de governo do estado'.
Trata-se, enfim, de rompimento com a rigidez pela qual atrofiam-se todas as atividades sociais.
Aos anarquistas, a primeira condição para ser 'dono', para ser 'proprietário', é a de o homem saber mandar nos seus próprios sentidos, abstendo-se do fáceis prazeres. O trabalho elevado à altura de dogma religioso.
Nessa ótica, não há espaço para o oculto, não cabe o clandestino, tão próprios do totalitarismo.
Sob esse julgamento (a partir da admissão da constância na evolução humana), a lei em si mesma é subversiva , a exemplo de qualquer nova Constiuição que, logo promulgada, rompe com a norma anterior, subvertendo-a.
Da clássica noção de democracia, vinculada ao conceito de liberdade, individual e coletiva; o anarquista tem sua visão acima da interpretação mais "coloquial". E sem nehuma erudição de enciclopédia, ele crê em sociedade organizada a partir de valor hoje relegado à inferioridade: o trabalho.
Por conseguinte, cabe-nos ao menos a aceitação de que os pressupostos anarquistas devem ser premissa para o real democrático, contrário à democracia servil, apenas um mote à manutenção de enrustidos sistemas de governos caracterizados pelo maior ou menor autoritarismo, todos presentes em oligarquias imperantes na organização da sociedade humana.
(Caos Markus)
O quê herdamos da História utilizamos, da mesma maneira como qualquer outro patrimônio, enquanto fundamento e estrutura aos nossos dias, ou, caso contrário, pouco dela aproveitamos. Neste último caso, restará toda a pretérita experiência humana a acervo memorial, reduzido a objeto de estudo comparado, quando muito. Porém, não integrado em processo onde a sequência possa denotar progresso, estagnação ou até mesmo retrocesso na evolução da espécie, do 'humano civilizado'.
Semelhante ao perdulário, ao ser desprezado esse conhecimento, dilapida-se um imenso legado, ignorando-o como o maior dos investimentos da humanidade.
Quando essa falência ocorre, os subterfúgios forjam inevitáveis silogismos agonizantes, já no berço, porque elaborados de premissas desprovidas de qualquer correlação entre si.
Daí, mais pretextos do que críveis explicações, admitem-se por cíclicos acontecimentos fatos onde presente está apenas a mera analogia.
Com efeito, a história não é cíclica. E pretender caracterizá-la nesse simplismo é não admitir a mais importante das mudanças verificadas no processo: a da conduta de personagens que, fluídos nas suas circunstâncias, negam ser intérpretes contemporâneos do 'status' antes guerreado.
Buscando atalho ao poder institucional, são muitos os "revolucionários" a cometerem o delito do atavismo contra a história política. Perde o sectário, enfim, o medo de "ser feliz" para ganhar a fobia de ser refém.
É metamorfose que para impor-se substitui a liberdade pela "libertação".
(Caos Markus)
Fracassar não é caminho nem sequer meta: ausente qualquer materialidade, não contém substância alguma.
A consciência dá grandeza à insubordinação.
Enfrentar uma realidade opressora, sabendo que não poderá alcançar a vitória, é grandiosidade.
É a própria medida do valor do homem. Saber-se finito e viver.Ter plena consciência do sem-sentido e ainda assim viver.
Limitar-se ao relativo e abandonar o absoluto; agir, lutar.
Empenhar-se sem nada esperar de definitivo; nem ao menos perguntar para que.
Assim pode o homem orgulhar-se de sua condição, de seu estar no mundo.
Vivendo, ele então despreza uma criação que não é a sua medida.
Aquilo que é derrota constitui-se ao mesmo tempo em seu triunfo.
Desprovido de esperanças, sem verdades absolutas, esse homem é livre.
(Caos Markus)
É imprescindível, na análise dos dogmas, em geral, identificar acuradamente o entendimento relacionado à 'extensão' do conhecimento humano, em justaposição à sua 'compreensão', ou seja, discernimento da verdade.Do 'empirismo' ao 'realismo', concepções diversas enxergam a maior ou a menor dimensão da 'verdade', passando por diferentes critérios de determinação. Pois, para o empirismo, a fonte única do conhecimento será sempre a experiência. Porém, genericamente, nota-se, o conhecimento experimental é particular e contingente, de âmbito limitado e restrito. Enquanto isso, o 'espírito científico' procura estabelecer verdades universais, de maior amplitude que a mera experiência.
Em tentativa de avanço, o 'positivismo' surge enquanto concepção filosófica a estabelecer os seus princípios nas leis fundamentadas em fatos generalizados; assim crê , a 'certeza' é adquirida pelas leis oriundas da experiência, não admitindo qualquer raciocínio "a priori". Porque -dessa maneira parece julgar- só nos é possível afastar do erro mantendo contato permanente com a experiência, cabendo então aos nossos pensamentos a função de estudar os fatos, relacioná-los e, finalmente, estabelecer normas.
Noutro parâmetro, a 'verdade' é pleiteada no 'idealismo' através da 'ideia' como critério do conhecimento, negando a objetividade dos dados sensíveis; atendo-se (na concepção da verdade e do mundo) à projeção que deles faz o nosso espírito.
Ainda oculta nas escolas da filosofia ocidental, certamente, a 'unidade transcendental da percepção'; a ideia da consciência acima de todos os fenômenos e ligada a nenhum deles; são a causa daquilo que cedeu lugar à 'vontade', ao 'indivíduo', ao 'sujeito', à 'personalidade', ao 'ego'. A causa, enfim, disso que (vitimado por queda vertiginosa, de cima abai xo) conhecemos por 'caráter'.
Desde que a 'opinião pública' passou a ser espelho necessário a uma ficcionada 'realidade comum', a capacidade individual inerente ao ato de interpretar deixou de integrar a unidade pessoal para dar lugar à incerta, porém, mais "convincente" pluralidade', numa relação de causa e efeito concomitante à falência do caráter.
Hoje, seria muito difícil que um indivíduo formasse uma opinião isoladamente, porque, na origem, a opinião pública (vinda de debate público, de um processo de discussão coletiva, implícito ou explícito) influenciaria (quando não, até mesmo decidiria) essa pessoa, de forma a sempre ser levada em conta o ensinamento dos pais, o pensamento das pessoas de suas relações, as informações recebidas da mídia, além da análise de um formador de opinião.
A grave consequência dessa doutrinação (porque muito dificilmente nos dedicamos ao exercício da interpretação plena, absolutamente livre do jugo da pressões contextuais do aprendizado imposto) é que de bom grado -passiva e placidamente- , aceitamos como nossa, isto é, de cada um de nós, individualizando-a, uma opinião geral adquirida no condicionamento reproduzido.
(Caos Markus)
Outros tantos mitos, por muito tempo, caíram, com e após a derrubada do Muro de Berlin; este, por si só, um emblema. Como nós os humanos não conseguimos viver (e nenhum esforço fazemos) sem ícones (eis que todas as nossas entidades morais são representadas em alegorias, apegados que somos à herança das convenções sociais forjadas na idolatria e, por isso, inibidoras da verdade com substrato filosófico); criamos novos signos a fim de justificar "nova ordem" no quase eterno duelo entre o 'bem' e o 'mal'. Aliás, estes, igualmente, conceitos arquitetados na iconolatria. A rigor, 'ordem' mais uma vez "revitalizada", contemporaneamente sofisticada -tudo na falsidade própria ao sofisma que, pela afetação, oculta o natural enquanto expressão mais imediata da realidade, imprimindo-lhe caráter de subordinação à burla, encobrindo-o e deturpando-o.
Com efeito, na pregação "de esquerda" pós-muro, o quê se viu, o quê se vê é a "neo-parede" do enredo habitualmente paternalista: o "mithos", a alegoria supressora do real, utilizada em nome da "verdade próxima", no advento do "frater patruelis", onde a fraternidade se limita à somatória de 'primos co-irmãos' pelo lado paterno.
De resto, o "frater" suscitando o "pater", na consolidação do "paternus" a decidir a estirpe humana, e a construir o seu "patrimônio moral".
Tudo na mal disfarçada ira dos que da "mater" somente almejam matrimônio que lhes assegure linhagem e dote. Porém, jamais professando-a como "magister". Porque nada mais dela desejam. E com ela nada esperam aprender.
(Caos Markus)