Perpetuadores da discriminação linguística, infelizmente, os meios de comunicação poderiam ser extraordinários instrumentos na democratização social das linguagens inter-relacionadas. No Brasil, vinculados aos oligopólios e seus máximos representantes, assumiram o papel de defensores da língua portuguesa supostamente ameaçada. Não interessa se duzentos e dez milhões de brasileiros se expressam de modo diverso ao institucionalizado pelo oficioso registro de normas, já elevado à informal oficialidade. São os nacionais tachados de errados, porque nem sempre seguem o apregoado como certo, a regra consolidada há séculos.
Nas sociedades e culturas centradas na escrita, o padrão é inspirado na escrita literária. Falar como os grandes escritores escreveram é o objetivo místico proposto pelas culturas letradas. Como ninguém fala de maneira igual ao escrito pelos renomados autores literários, a população inteira teoricamente fala errado, pois esse ideal é inalcançável.
Uma veemente contradição: os ensinos tradicionais de língua determinam aos educandos imitar os clássicos, mas ao mesmo tempo os proibem o reservado somente aos literatos: a licença poética. Ela é permitida àquele que em teoria sabe tão bem a língua a ponto de se dar ao luxo de desrespeitar as normas. Porém, a diferença entre a licença poética e o erro gramatical é, basicamente, de classe social. Alguns, pela sua própria origem social, se dão ao direito (e tem esse direito reconhecido) de falar como quiser; aos outros, a maioria, também por sua origem social não é salvaguardado esse mesmo direito.
Cria-se um rigor linguístico distante da língua realmente vivida. A partir desse confronto entre o falar comum e a língua codificada, surgem os conflitos linguísticos. Ao comparar a sua maneira de falar com o aprendido na escola (ou, o codificado), o aluno vê o distanciamento
entre essas duas entidades, e sob auto-censura, julga errado e feio o seu próprio vocabulário.
Por essas razões, qualquer imposição linguística gera um efeito contrário, o da auto-rejeição, ou a promoção de um ranço por parte dos segmentos sociais predominantes.
(Caos Markus)
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