O “self” (o ‘si mesmo’) é a função organizadora do indivíduo, por meio do qual um ser humano pode relacionar-se com o outro. O “self” não é a simples soma dos vários papéis representados, mas sim a capacidade de se reconhecer atuando na representação de tais papéis. É também o centro pelo qual vemos e temos consciência das diferentes facetas de nossa personalidade. É a autoconsciência a permitir ao indivíduo ver a si mesmo como os outros o vêem, e sentir empatia. É colocar-se no lugar do outro e imaginar como se sentiria e o que faria se fosse ele. Permitir, em última instância, realizar suas próprias potencialidades. O homem realiza suas potencialidades somente quando planeja e escolhe conscientemente. E o fato de não poder realizá-las está na raiz de sua doença e neurose. Pois, o objetivo da vida é a alegria, não a felicidade idealizada. Considerada a alegria enquanto emoção inerente à realização de nossa natureza como seres humanos, tornar-se ‘pessoa’ é, nesta condição, um aprofundar dessa consciência do próprio ‘eu’, consciência de um ‘eu ativo’. O ‘si mesmo’ tem um objetivo preponderante. Ele é visto como uma estrutura organizada e mutável de percepções relativas ao próprio indivíduo: características, atributos, qualidades e defeitos, capacidades e limites, valores e relações, indicados como descritivos de si mesmo, constituindo suaidentidade. Todo ser humano tende à ‘auto-realização’, termo sinalizador da tendência diretriz (evidente em toda a vida orgânica e humana) de se expandir, de se desenvolver e amadurecer, ou seja, a tendência para colocar em ação todas as suas capacidades e potencialidades, estando à espera das condições adequadas para se exprimir e se manifestar. Para isto acontecer, no entanto, é necessário um contexto de relações humanas positivas, favoráveis à conservação e à valorização do ‘eu’, requerendo relações desprovidas de ameaça ou desafio à concepção que o sujeito faz de si mesmo, ou ao seu autoconceito. Assim, infere-se, o ambiente ideal para o desenvolvimento do ser humano (seja na família, na escola ou na sociedade), é aquele onde o indivíduo se sente amado e respeitado como pessoa; um ambiente onde suas ideias, opiniões e ações são valorizadas e apreciadas de forma positiva. Em última análise, a noção de “self” é a determinante dessa tendência atualizadora, e se possibilitar suas capacidades e potencialidades, será então efetiva e realista. Trata-se de processo onde o indivíduo acredita ser, ele próprio, de uma determinada maneira, ou crê possuir certos atributos e qualidades. Esta percepção é o “eu ideal”. Assim, para ele conseguir manifestar sua tendência de atualização, torna-se necessário que os entendimentos do ‘eu real’, derivados da experiência vivida (sentimentos, desejos, ansiedades, angústias), se aproximem do ‘eu ideal’, dependente ainda da sua sensibilidade em enxergar como os outros o percebem e se comportam diante dessa percepção. Quando a compreensão do mundo e esta percepção mais realista são congruentes entre si, ele terá mais facilmente oportunidades de alcançar os objetivos a que se propõe. Por outro lado, se a concepção de “si mesmo” apresenta lacunas e inconsistências, a tendência atualizadora não será clara; e o indivíduo será propenso a propor metas difíceis de atingir, razão pela qual experimentará o fracasso, com todas as frustrações dele decorrentes. Assim, a noção há de ser realista, fundamentada na experiência pessoal autêntica, conduzindo cada um à satisfação subjetiva e ao comportamento eficaz. A condição essencial deste funcionamento autêntico é a liberdade para experimentar.
(Caos Markus)
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