Se é verdade que não há ensino sem aprendizagem, então não existe uma distinção entre ensino bem sucedido e ensino mal sucedido. Todo ensino é, por definição, bem sucedido, ou seja, resulta, necessariamente, em aprendizagem. Assim, se fulano ensinou raiz quadrada a sicrano e sicrano aprendeu raiz quadrada, há explícita redundância nessa suposta constatação, incorre-se em pleonasmo, se diz a mesma coisa duas vezes. Por outro lado, na hipótese de fulano ensinar raiz quadrada a sicrano e sicrano não aprender, tal assertiva implica em auto-contradição: afirma e nega a mesma coisa, ao mesmo tempo, porque se fulano ensinou, então sicrano (necessariamente) aprendeu, e se sicrano não aprendeu, então fulano (necessariamente) não ensinou. Tudo indica, é perfeitamente possível afirmar que: embora fulano tivesse ensinado raiz quadrada a sicrano durante a tarde toda, sicrano não aprendeu raiz quadrada. Em outras palavras, a distinção entre 'ensino bem sucedido' e 'ensino mal sucedido' (resultando ou não em aprendizagem, respectivamente) se afigura inteiramente legitima. Ora, se esta distinção é legítima, então será falso afirmar não ocorrer ensino sem aprendizagem (ou que todo ensino resulta em aprendizagem). Mas insinua-se a existência de um certo vínculo conceitual entre ensino e aprendizagem. Dificilmente se dirá acerca de uma pessoa ensinando algo a alguém se ela não tem a menor intenção de fazer o outro aprender o ensinado. Talvez esteja querendo se dizer: se não houver, por parte de quem apresenta um certo conteúdo, a intenção voltada ao aprendizado do outro indivíduo, então não há ensino. Esta afirmação poderia ser aceitável. Ela apresenta, porém, uma dificuldade: a noção de intenção. Como se determina se uma pessoa tem ou não a intenção de que outrém aprenda o que ela está expondo? Este é um sério obstáculo, porque esta questão é virtualmente equivalente à outra pergunta: como se determina o quanto uma pessoa está, ou não está, ensinando? Afinal, pode haver 'aprendizagem' sem correlata existência de 'ensino' ? Essa resposta aparenta-se mais fácil. É possível, durante uma aula ou exposição, alguém aprender coisas que o professor não está querendo lhe ensinar (isto é, coisas as quais o professor não tem por intenção o aprendizado pelo aluno), como, por exemplo, assimilar o assunto da exposição como terrivelmente maçante. Este seria um exemplo de aprendizagem sem ensino. Tal situação é sugestiva em relação ao chamado auto-didata, pois, na realidade, ele é um auto-aprendiz, um indivíduo capacitado a aprender um certo conteúdo sozinho, e não uma pessoa apta a ensinar a si mesma. Então, não é exatamente correto dizer: a natureza e a vida ensinam. Nestes casos, também, seria muito mais certo dizer: certas pessoas aprendem determinadas coisas por si próprias. Estes, isoladamente, sim, seriam exemplos de aprendizagem sem ensino. Resta claro, portanto, ser absolutamente impossível uma aprendizagem sem ensino.
(Caos Markus)
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