O HÁBITO DE VIVER
Acerca do entendimento humano, a inferência constituinte do ‘conhecimento causal’ é resultado da ação do ‘princípio do hábito’. A questão deste conhecimento, o ‘causal’, afirmando a superioridade do ‘instinto natural’ como fundamento produtor do saber é assim esclarecida: o sujeito detentor da experiência de que dois objetos aparecem regularmente conjugados, um seguindo-se ao outro, possui o entendimento da apresentação de uma tendência a supor conexão entre tais objetos, de maneira a conceber o primeiro como ‘causa’ e o segundo como ‘efeito’. Assim, diante da observação do primeiro (a ‘causa’), evidencia-se à mente a ideia de seu correlato (o ‘efeito’). Por consequência, é possível o raciocínio sobre diversas ‘regularidades causais’ inferidas acerca do mundo. Essa expectativa, o passo da conjunção de objetos ou eventos para a ‘conexão causal’, é produzido por um ‘primado’, ou ‘instinto da natureza humana’, caracterizado como um ‘hábito’. Por isto, está mais de acordo com a costumeira ‘sabedoria da natureza’ que uma atividade mental tão necessária seja garantida por meio de algum instinto ou tendência mecânica, capaz de mostrar-se infalível em suas operações. A ‘natureza humana’ é, pois, dotada de disposições e instintos, todos de utilidade para a sobrevivência do ser humano. Ou, pode-se afirmar, o ser humano preserva-se vivo na terra, desde sua remota ancestralidade até seus descendentes mais longínquos, por ‘força do hábito’. A esse instinto, natural (a nos oferecer a possibilidade de predizer as suas próprias regularidades) chamamos ‘sabedoria da natureza’. Mas em que sentido devemos tomar aqui a palavra ‘sabedoria’? Qual será esse peculiar procedimento da natureza, pelo qual se supõe ter sido ela capaz de nos oferecer tal instinto, o qual nos permite inferir ‘efeitos semelhantes de causas semelhantes’ e prognosticar acontecimentos futuros, conseguindo assim sobreviver no mundo em que habitamos? O sentido da expressão "sabedoria da natureza" está diretamente ligado à noção de ‘ordem natural’. É preciso identificar quais as forças regentes da natureza, quando então elas serão legitimadas enquanto conceito de ‘sabedoria’. Considerada a ‘natureza humana’ como uma pequena parte da natureza em geral, hipoteticamente ela está submetida às mesmas regularidades.Todas essas noções podem, afinal, de modo legítimo, ser transpostas para a discussão a respeito do ‘hábito’, e assim fornecer uma explicação de sua presença e de seu sucesso como mecanismo produtor do saber.
(Caos Markus)
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