RESSIGNIFICÂNCIAS EM REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Nas sociedades modernas, somos diariamente
confrontados com uma grande massa de informações. As novas questões e os
eventos agora presentes no horizonte social frequentemente exigem, por nos
afetarem de alguma maneira, a busca do seu efetivo discernimento,
aproximando-os do já conhecido, usando palavras integrantes de nosso repertório. Nas conversações diárias,
em casa, no trabalho, com os amigos, somos instados a nos manifestar sobre eles,
procurando explicações, fazendo julgamentos e tomando posições. Estas interações
sociais criam ‘universos consensuais’ no âmbito dos quais as novas
representações são produzidas e comunicadas, incorporadas, desde logo a esse
universo, não mais como simples opiniões, porém, na condição de verdadeiras ‘teorias
do senso comum’, construções esquemáticas cujo objetivo é dar conta da
complexidade do objeto, facilitar a comunicação e orientar condutas. Essas
‘teorias’ ajudam a forjar a ‘identidade grupal’ e o ‘sentimento de pertencimento
do indivíduo ao grupo’.
Há muitas formas de conceber e de abordar as
representações sociais, relacionando-as ou não ao imaginário social. Elas ‘são
associadas ao imaginário’ quando a ênfase recai sobre o caráter simbólico da
atividade representativa de sujeitos partícipes de uma mesma situação ou
vivência social: eles exprimem em suas representações o sentido dado à sua
experiência no mundo social, servindo-se dos sistemas de códigos e
interpretações fornecidos pela sociedade e projetando valores e aspirações
sociais.
O
estudo das ‘representações sociais’ investiga a origem do funcionamento dos
sistemas de referência por nós utilizados a fim de classificar pessoas e grupos,
e para interpretar os acontecimentos da realidade cotidiana. Por suas relações
com a linguagem, com a ideologia, com o ‘imaginário social’ e, principalmente,
por seu papel na orientação de procedimentos e das práticas sociais, as ‘representações
sociais’ constituem elementos essenciais à análise dos mecanismos interferentes
na eficácia do processo educativo.
Inseridos
no indispensável discernimento das ‘representações sociais’, estão os desafios
dos professores em sua prática docente, destacando-se sobremaneira a educação
das classes desfavorecidas e o papel da escola na ruptura do ciclo da pobreza.
O chamado fracasso escolar das crianças pobres é hoje preocupação dominante no
campo da educação. Estudos sobre ‘percepções’, ‘atribuições’ e ‘atitudes’ de
professores e alunos, bem como de comportamentos diferenciados do professor em
função de expectativas, relacionando-os ou não a efeitos no aluno, têm
procurado uma melhor compreensão do problema. Tal posicionamento equivale
identificar princípios condizentes com uma didática condizente à sociedade
apresentada sob representações repensadas.
A
análise desses estudos, de um modo geral, eles têm indicam: (1) os professores
tendem a imputar o fracasso escolar a condições sócio-psicológicas do aluno e
de sua família, eximindo-se de responsabilidade sobre essa derrota; (2) um
baixo nível socioeconômico do aluno leva o professor a desenvolver baixas
expectativas sobre ele; (3) os professores são inclinados a interagir
diferentemente com alunos sobre os quais formaram altas e baixas expectativas;
(4) esse comportamento diferenciado frequentemente resulta em menores
oportunidades de aprendizagem e diminuição da auto-estima dos alunos sobre os
quais recaíram as baixas expectativas; (5) os alunos de baixo rendimento geralmente
atribuem o malogro a causas internas (relacionadas a falta de aptidão ou de esforço),
assumindo a responsabilidade pelo insucesso; (f ) o frustração escolar
continuada pode resultar em desamparo adquirido.
Tais
resultados ajudam a visualizar o ‘beco sem saída’ onde hoje se situa educação
das chamadas ‘classes desfavorecidas’. Entretanto, apontam, sobretudo, a
necessidade de se ultrapassar o nível da constatação acerca do ‘imaginário’ dos
indivíduos, procurando então compreender ‘como’ e ‘porque’ essas percepções,
atribuições, atitudes e expectativas são construídas e mantidas, recorrendo aos
‘sistemas de significação’ socialmente enraizados e partilhados, através dos
quais se orientam e se justificam. A intenção propalada de propiciar mudanças
através da educação exige a clareza dos ‘processos simbólicos’ verificados na
interação educativa, considerando-a não ocorrente num vazio social. Em outras
palavras, para maior impacto da pesquisa educacional acerca da prática
educativa, não é aceitável recusar um olhar psicossocial, de um lado -preenchendo
o sujeito social com um mundo interior- e, de outro, restituindo o sujeito
individual ao mundo social.
(Caos
Markus)
Nenhum comentário:
Postar um comentário