Análise dos conceitos mais divulgados como critérios de melhoria da qualidade da educação.
Afirmações aparentemente incontestáveis se revelam mitos, sofismas ou meias-verdades, apenas obstáculos à indispensável discussão com profundidade.
Afirmações aparentemente incontestáveis se revelam mitos, sofismas ou meias-verdades, apenas obstáculos à indispensável discussão com profundidade.
Mito: para melhorar a educação pública, basta aumentar o salário dos professores
É quase senso comum: o primeiro passo para aprimorar a educação seria elevar os gastos públicos na área, principalmente para pagar mais aos professores. Até há pouco tempo, refutar uma premissa como essa dependia, sobretudo, de coragem. Nos últimos anos, porém, diversas pesquisas vêm contestando a relação direta entre o poder do dinheiro e a qualidade do ensino. Recente mapeamento das práticas de 20 sistemas de reconhecido sucesso constatou que muitos países, como a Austrália e a Alemanha, duplicaram os investimentos em educação entre 1970 e 1994 sem alcançar qualquer melhoria.
Nessas nações, a aprendizagem só foi reforçada quando os governos implantaram políticas eficientes para valorizar o professor. Isso foi feito também, mas não só com salários acima da média, e sim através,especialmente, de grandes investimentos em capacitação e condições de trabalho, aliados a estratégias para elevar o prestígio social do educador - até mesmo com campanhas publicitárias. Há outras condições necessárias para produzir qualidade. Em alguns lugares, os salários são mais altos do que a média, o que não obrigatoriamente resulta em uma educação melhor. É preciso que haja boa gestão, um currículo organizado, com expectativas de aprendizagem elevadas, professores motivados, materiais didáticos diversificados e formação continuada.
Nessas nações, a aprendizagem só foi reforçada quando os governos implantaram políticas eficientes para valorizar o professor. Isso foi feito também, mas não só com salários acima da média, e sim através,especialmente, de grandes investimentos em capacitação e condições de trabalho, aliados a estratégias para elevar o prestígio social do educador - até mesmo com campanhas publicitárias. Há outras condições necessárias para produzir qualidade. Em alguns lugares, os salários são mais altos do que a média, o que não obrigatoriamente resulta em uma educação melhor. É preciso que haja boa gestão, um currículo organizado, com expectativas de aprendizagem elevadas, professores motivados, materiais didáticos diversificados e formação continuada.
Mito: é impossível ensinar em salas de aula com mais de 40 alunos
Um estudo realizado em 2008 pela Fundação SM, entidade que investe em projetos educativos em países de língua espanhola e portuguesa, e pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) mostrou que 53% dos professores brasileiros estão descontentes com o alto número de alunos em sala de aula. Mesmo na rede particular, ao escolher uma escola os pais querem saber com quantos outros alunos seu filho estudará. Parece fazer sentido: com menos alunos, os professores teriam mais condições de controlar a turma e dar atendimento individualizado.
Recentemente, porém, uma pesquisa reuniu 120 estudos a esse respeito: 89 deles não estabeleciam uma relação significativa entre tamanho da sala e aprendizagem. Outros nove ainda encontraram em salas grandes um fator positivo. A Coréia, um dos cinco países com melhor educação, coloca até 60 alunos nas salas. As pesquisas mostram exaustivamente uma ausência quase total de associação entre tamanho das classes e resultados. Até na questão comportamental, as classes numerosas parecem levar vantagem. O papel da escola é também o de socialização. A escola não deve repetir as proteções da casa. As salas de aula maiores exigem mais disciplina, portanto mais capacidade de respeito, importante na formação para a vida.
Recentemente, porém, uma pesquisa reuniu 120 estudos a esse respeito: 89 deles não estabeleciam uma relação significativa entre tamanho da sala e aprendizagem. Outros nove ainda encontraram em salas grandes um fator positivo. A Coréia, um dos cinco países com melhor educação, coloca até 60 alunos nas salas. As pesquisas mostram exaustivamente uma ausência quase total de associação entre tamanho das classes e resultados. Até na questão comportamental, as classes numerosas parecem levar vantagem. O papel da escola é também o de socialização. A escola não deve repetir as proteções da casa. As salas de aula maiores exigem mais disciplina, portanto mais capacidade de respeito, importante na formação para a vida.
Mito: professor bom é professor que reprova
Pergunte a alguém com mais de 40 anos sobre quem foi um bom professor. Muito provavelmente, ele vai lhe descrever um profissional sisudo, exigente, que esbanjava conhecimento e, sobretudo, reprovava. Hoje, a lógica não é mais a do ensino, mas a da aprendizagem. Há um consenso entre os pesquisadores de que o bom professor é aquele capaz de conduzir o maior número de estudantes ao aprendizado. Ou seja, classes com excesso de alunos com dificuldades indicam que o educador não está conseguindo encontrar caminhos para motivá-los e ensiná-los. Por outro lado, reprovar os que não aprenderam não é necessário? Essa é uma questão complexa. Na rede pública, as pesquisas mostram que passar novamente pelos mesmos conteúdos não faz com que repetentes aprendam mais. O caminho mais provável é abandonar os estudos, depois de muitas tentativas. É preciso uma escola em que os alunos aprendam e, portanto, em que a reprovação deixe de ser um assunto candente. Mas essa regra tem exceções.Embora a repetência seja sempre um tema delicado para as famílias e para os alunos, há situações em que traz benefícios. No caso das crianças, pode representar uma chance de recomeço quando a auto-estima já foi afetada pelos contínuos insucessos; para os adolescentes, costuma induzir a uma mudança de atitude diante dos estudos. Contudo, a reprovação nunca deve acontecer por um fator isolado, como a dificuldade numa matéria específica.
Mito: escola particular é sempre superior à pública
A crise do ensino público é relativamente recente. Foi a partir do final da década de 60 e sobretudo nos anos 70 que a escola pública incluiu uma massa colossal de crianças, que até então não tinha acesso à escola; ao mesmo tempo, perdeu a classe média, que escolheu pagar o preço da rede privada em vez de pressionar os governos a priorizar a educação. Porém, é falso pensar que a escola particular sempre é melhor do que a pública. Escolas públicas que recebem alunos de origem social mais elevada são tão boas quanto as privadas. Mesmo escolas mais pobres, mas com a comunidade muito presente, podem apresentar resultados elevados.
Verdade: quanto mais tempo de estudo na escola, melhor
Verdade: quanto mais tempo de estudo na escola, melhor
O tempo de permanência é um fator decisivo em atividades de aprendizagem. Na Finlândia, que hoje tem o melhor ensino do mundo, o dia escolar começa entre 8 e 10 horas da manhã e termina entre 13 e 16 horas, com um currículo forte nas áreas acadêmicas, mas que não deixa de lado a música e as artes plásticas. Também é previsto tempo extra para alunos com dificuldades específicas de aprendizagem. Cerca de 30% deles recebem esse apoio - não como um castigo, mas como um atendimento preferencial. A escola de tempo integral tende lentamente a ser incluída nas políticas públicas dos países onde a Educação é critério primoridal de desenvolvimento, a exemplo do que já ocorre em algumas particulares, com aulas que se iniciam em torno das 8 da manhã e seguem até as 15 horas. O tempo médio de permanência do aluno na escola, nos países com melhores indicadores de qualidade, é de seis horas diárias.
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