A vida é especial, porém não uma 'especialidade' como hoje o são os vários ramos do saber. Unificar, em vigorosa síntese, a filosofia, a política, a ciência, é vislumbrar a possibilidade de uma religião superior, esclarecida e esclarecedora.
Assim, conceber essa religião depende do esforço do homem, procurando instituir a harmonia em suas íntimas e profundas relações com o próprio meio.
Muito tempo se passou desde que nós - ainda povos selvagens - constituímos "classes sociais" reduzidas à fórmula simples do sacerdócio ou "poder espiritual". A sociedade humana, agora organizada, vê na religião uma condição essencial à vida coletiva. Pois então, não é crível que os meios pelo homem criados para aumentar o seu bem-estar, notadamente os que lhe dão mais força ou segurança, sejam os mesmos utilizados para privilegiar podres poderes, a fim de dominar pelo sacrifício. Já é chegado o momento de sabermos o que pode a religião fazer em prol do indivíduo.
Compreender a alma humana requer auxílio da ciência. Afinal, por ser complexa, se não houvesse diferentes modos de sentir, se as grandes desgraças não fossem uma refundição, um transfiguramento completo da alma/psique, o homem seria a negação de si próprio, reafirmando-se exclusiva e paradoxalmente através da anulação pessoal.
Desacreditadas, as instituições religiosas exigem uma reformulação de seus fundamentais princípios, num esforço para enaltecer a vida dos homens. O sobrenatural deverá ceder lugar à experiência religiosa, limitada, contudo, à circunstância de constituir-se num significado mais amplo das relações humanas, tornando possível ao homem ajustar-se no meio em que vive, atuando tal qual um despertador da consciência, pela faculdade do homem em completar seu íntimo, assistir à própria existência; ser, por assim dizer, espectador de si mesmo.
Há, certamente, enorme relutância da igreja institucional em aceitar qualquer revelação como reflexo desse poder interior, intrínseco ao ser humano, voltados à iluminação e à transformação de sua vida. A vocação a ele negada não possui outro objetivo, senão o de assegurar a eficácia de um sistema restrito ao domínio pela manipulação do supostamente sobrenatural, em recusa de tudo o que pode e deve ser cientificamente pesquisado. Aliás, não por um mero acaso "política" e "religião" confundem-se através dos tempos.
Assim, da mesma maneira como o "político" quer submeter pela ignorância, o "religioso" pretende limitar pela omissão.
(Caos Markus)
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