As religiões, as doutrinas econômicas, aos planos políticos, os governos e os governantes, todos, de atitudes várias, de conceitos diversos, todos, sem exceção alguma, unem-se apenas pelo sórdido propósito da destruição das almas, em torno da submissão do espírito aos prazeres da luxuria e do consumo indiscriminado. Os líderes somam um maior número que os liderados; cada um, em cada região, em cada cidade, em cada rua, prega o único culto e a exclusiva devoção - vociferar, blasfemar , em tresvariamento típico dos alienados.
É chegado o dia em que os loucos de todos os gêneros são a única espécie do gênero humano, em que a humanidade comprometida somente com o narcisismo, voltada para a egolatria, adora a si mesma mais que a qualquer outra divindade, morta essa, aliás, ferida a golpes sucessivos da arrogância, da presunção e da indiferença, lesada pelo infortúnio promovido por essa raça singular, que não enxerga nada além das guerras, da infâmia e da barbárie.
O mundo acabou. A vida já não é nem um projeto ou um simples esboço; tanathos celebram o seu triunfo contemplando os cadáveres dos mortos-vivos, em que séculos de atrocidades conseguiram, enfim, transformar toda civilização humana sobre a terra.
Os profetas da nova era arvoram-se em capatazes do senhor único e venerado, defendem-no como algozes que são, a mando da crueldade, a serviço do império da maledicência, pagos com sangue e os gemidos atrozes das vítimas da nova Babilônia. Sodoma e Gomorra não conheciam de tudo o que seriamos capazes; não imaginavam o palco de horrores em que restaria a humanidade enredada, presa fácil da própria cupidez, subjugada ao mais inegável aviltamento como resultado imediato das suas mesquinhas ambições.
Os meios midiáticos nada mais informam. Antes, alardeiam o sem número de ofertas de produtos nocivos à saúde física e mental. São agora o veículo de transmissão da demência e estampando incessantemente as marcas e as sequelas da submissão do amor e da paz à chaga permanente dos assassinatos, dos estrupros, dos roubos e dos seqüestro.
O mundo acabou. Tal qual modernas hienas, devoramo-nos uns aos outros, num frenesi de orgia, consumando o hino ao deus da sordidez da ignorância, numa elegia de infindáveis estrofes, todas rimadas pelo timbre da dor, pelo som da voz dilacerada dos povos agonizantes. O mundo acabou. O fausto desda última ceia é a antrofagia dos comensais, disputando entre si a carne humana na podridão dos corpos corroídos pelo descaso.
A dúvida seria uma salvação, se ela existisse. Mas, irreversível, o mundo de fato acabou; porque ninguém mais duvida , ao contrário a insensatez tem feito com que um número maior de pessoas tenha a mais absoluta certeza sobre a verdade, da mesma maneira como ninguém duvida a respeito da liberdade e da felicidade.
Entretanto, se mundo não acabou, certamente começou a acabar, só porque alguém disse isso, e alguém fez questão de ouvir e acreditar.
(Caos Markus)
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