"(…) E todo o meu sonho e intento é unir
e juntar num só todo o que é fragmento
e enigma e horrível acaso.
Como eu suportaria ser homem, se o
homem não fosse também poeta e decifrador
de enigmas e redentor do acaso?"
(Nietzsche)
A arte e a obra, no seu existir primordial, mantêm-se sempre envolvidas no enigmático mistério que é próprio da existência do 'Ser', quer no espaço vazio da tela, quer na partitura sem notas do compositor musical, na pedra informe do escultor ou no papel em branco do poeta.
A convicção de uma interpretação metafísica da obra de arte, longe de a esclarecer na sua essência e origem, antes a perverte na sua constitutiva realidade. Análogo à postura filosófica ocidental, este tipo de perspectivação metafísica da arte identifica-se com a Estética, busca fazer da arte uma manifestação cultural neutra, sempre reconduzível ao homem, procurando discriminar-lhe uma criteriologia que nada mais é do que a aplicação de valores de civilização, de padrões de auto-avaliação importados do saber teórico, que em nada esclarecem a essencial radicação da obra de arte.
A Estética procura, pois, esclarecer as modalidades dos registros firmados em torno do juízo do 'Belo', bem como a relação intrínseca e insuperável entre os termos 'obra de arte' e 'espectador', descentrando, deste modo, a reflexão da própria realidade da obra, e esquecendo a sua estrutura fundamental ao plano de fundo da sua própria existência. Quando se pretende descortinar a origem da obra de arte (proveniência essencial), o que indubitavelmente se persegue é o modo próprio de desdobramento do 'ser da obra' enquanto 'ente que é'.
A tríade 'obra de arte/artista/arte' não torna a indagação revestida de futurismo, pois ante a inquirição, inevitavelmente, se recai em círculo vicioso. E nem a determinação da essência da arte é possível através da contemplação comparativa de distintas obras ou da dedução do que a arte seja efetiva a partir de conceitos superiores. Inevitável é buscar o entendimento do que é a obra de arte na sua pura realidade. Trata-se, deste modo, de procurar filtrar as propriedades da obra de arte em relação aos outros entes, porque o horizonte em que primariamente essa obra se nos apresenta é o das 'coisas que são', sendo necessário então relevar se a obra é coisa, se diz outra coisa além da coisa que é, ou se sendo coisa, a ela está reunido, adstrito, 'algo de outro', caso em que ela pode se caracterizar como símbolo.
Mas o que 'se faz obra na obra' ? A verdade de 'todo o ente que é', coisa ou produto. O 'ser do que é' chega pela obra e sobretudo por ela ao seu parecer.
(Caos Markus)
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