Quando a separação aparece como um mal ou absurdo supremo, a unidade é pretendida como bem absoluto, pois se o homem reconhecesse que o universo também pode amar e sofrer, com ele se reconciliaria. Se o pensamento descobrisse, em espelhos reflexos, fenômenos, relações eternas que pudessem resumí-los; e sumariar a si próprias num princípio único; seria então possível falar de uma felicidade do espírito, de maneira tal que o mito dos bem-aventurados nada mais seria além de uma ridícula falsificação.
Essa nostalgia de unidade, esse desejo voraz de absoluto, é marcante no movimento essencial do drama humano. A nostalgia de união não é algo efêmero, mas sim fundamental, por dizer respeito à própria vida e à morte do homem.
Qualquer ser consciente deseja, com efeito, mesmo que o ignore, a unidade, sob diversas formas: desde a criação artística ao amor, dos atos revolucionários à crença religiosa e os delitos.
Frente à angústia e à nostalgia, diante de um tal estado de coisas que constituem um longo sofrimento, impõe-se ao homem uma necessidade vital que é a de sair dessa prisão a todo o custo.
No contexto desse absurdo três são, pois, as consequências: a revolta, a liberdade e paixão.
A revolta é o protesto, a obstinação, a recusa, o confronto. Face o absurdo, filosoficamente a revolta é coerente. Ela é o confronto perpétuo do homem e do absurdo da sua própria existência. É a exigência de uma impossível transparência, é a presença constante do homem em si próprio. Não é o desejo, pois é desprovida de esperança.
Esta revolta não passa da certeza de um destino esmagador, mas sem a resignação que deveria acompanhá-la. Por isso, ela exige uma lucidez sem tréguas: manter a clareza e o conhecimento das fronteiras que cercam o homem. A tenacidade e a translucidez são espectadoras privilegiadas nessa trama desumana em que o absurdo, a esperança e a morte conversam entre si.
É indispensável exercitar constantemente, tal qual uma devoção, para possibilitar ao homem manter-se no absurdo, uma vez reconhecendo-o.
A revolta não altera a natureza do absurdo. Contudo, a ele confere maior evidência, pelo intrínseca espontaneidade como o anuncia.
(Caos Markus)
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