Eu morro de dó dos negros; eu morro de dó dos judeus; eu morro de dó de mim mesmo, que não sou nem negro e nem judeu. Eu vivo morrendo de dó de criança pobre e abandonada, jogada nas esquinas dos comerciais de televisão, e sempre prontas para o prato cheio da caridade humana. Que pena eu sinto da tristeza que me faz sentir a vida como a mais real de todas as novelas, com os seus personagens assim, tão cheios de humanidade!
Não sei mesmo o que posso fazer para melhorar o mundo, pois, pelo que parece, ele não existe para ser melhorado; tem-se a impressão que tudo precisa ser do jeito que é, ou da maneira que inventaram de ser. Sentir dor - grande ou pequena, verdadeira ou não, é o que resta para tanta gente que, igual a mim, não faz mais nada que sentir.
Recheando de indignidade, eu caminho no apocalipse que jamais virá, porque todo dia é um pouco. E nesse recheio o meu espanto é que eu ainda continue tão pasmado com tanta coisa feita só para pasmar. Pois, se esse é o enredo, que eu já conheço de cor, para que aceitar o papel de coadjuvante mal remunerado? Deveríamos, então, decidir pelo decidido e mudar de lado, só para não sofrer o sofrimento alheio? Teríamos, de verdade, essa aparente capacidade de imaginar que o ser humano vale a pena, porque também o somos? E quem disse que todo mundo é igual, ou que tenha de ser? Hein?!
Se eu continuar morrendo de dó, chorando pela carinha triste de tantos holocaustos, o que vai ser de mim? Não é disso que precisa a humanidade? De algo e de alguém para chorar? Não prefere ela o luto do que a eterna felicidade prometida? Ora, por que os sinos dobram?! (Marcus Moreira Machado)
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