Eu fui visitado por extra-terrestres. Vinham em paz, ele me disseram, telepaticamente. Preocupado, de imediato, fiz grave recomendação: "- Vocês trazem o quê aqui não há e o quê aqui não querem?! Porque entre nós, Gautama, Jesus, Spinoza, Tolstoi... todos pretenderam proclamar um mundo sem ódio. Jeremias, Confúcio, George Fox e Platão... eles vieram à Terra como soldados da paz, sonhando com um mundo melhor, em viva voz através do silêncio dos séculos. No entanto, o quê aqui viram foi homens procurando dividir o mundo entre si e o 'Deus' em nome de quem falavam, tais quais verdadeiros príncipes do ódio, profetas da espada construindo impérios e destruindo civilizações". Inútil a minha advertência! Os alienígenas conheciam a nossa história em todos os seus detalhes; e insistiam na possibilidade de uma nova família humana, na vanguarda de uma nova era, em que reis filósofos triunfariam em sã rebeldia. Eu refutei, argumentando com a vã promessa de Lenin e Gandhi, o assassínio de nobres idéias, desejosas de consolidar uma livre e harmoniosa 'família de nações', liberta da propriedade privada como fonte de todo o mal; afastada da opulência; dedicada à compreensão da piedade e da beleza da vida, como o fez Francesco Bernardone. E acrescentei: "-Todavia, seguiram-se-lhes toda a maldade, como a infâmia da Inquisição de Gregório IX e seu mais perfeito produto -Torquemada, um zeloso incinerador de maometanos e judeus".
Que nada! Insistentes os meus visitantes. À hipocrisia de Marcus Porcius Catão, os estrangeiros inter- galáticos lembravam-me o gênio de Shakespeare, a um só tempo -diziam- revolucionário, como Shelley; amargo, como Heine; pessimista, como Eurípedes; cínico, como Byron; desiludido, como Swinburne; filósofo, como Goethe: e esperançadamente resignado, como Tennyson.
Eu concordei: "-Tivemos, sim, grandes vultos. Porém, necessitamos de pessoas que reajam prontamente contra a ignorância, contra a intolerância e a opressão. Mas vocês sabem mesmo onde estão? Em que lugar do universo vieram parar?! Vocês estão agora no Brasil!! Aqui não é nem terceiro mundo, é outra dimensão!!! Aliás, acreditar em extra-terrestres foi a nossa última invenção, nesta prolongada letargia em que hibernamos. Aqui, não mais cabe discutir se há vida depois da morte, mas sim entender o porquê dessa morte antes da vida!".
Nesse momento, eu imaginei ter ouvido um zumbido muito forte, e ter visto luzes ofuscantes. Ficção ou não, percebi então que eu conversava comigo mesmo. O quê me fez notar que todo brasileiro tem esse zumbido nos ouvidos -que não é labirintite, mas sim visíveis sinais de comunicação intuitiva, decodificada através de fenômeno de imagens. Ou seja, eu agora sei a nossa verdadeira identidade: somos alienígenas, e o Brasil não é país, é uma imensa nave espacial que se perdeu da nave-mãe. E confinados no Planeta Terra, por séculos, por isso então é que em nada parecemos com os personagens da história da civilização humana... (Marcus Moreira Machado)
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