O Estado brasileiro não tem cumprido com a sua tão propalada 'vocação democrática'. Nele, o bem-estar individual não é prioridade. Remanescente da ditadura política, sobrevive a ditadura econômica, gerando o lamentável fenômeno social da fome.
Lin Yutang, faz tempo, discernia quais as razões de um determinado 'regime' a consignar os objetivos desse ou daquele governo, no panorama mundial: "-Não se pode negar que do ponto de vista do Estado, organizado para a guerra e para a conquista, o totalitarismo tem tudo o que se pode dizer a seu favor. Mas do ponto de vista do indivíduo como a meta final visada pela civilização, e para o propósito de fruir as bençãos ordinárias da vida, nada há que se diga em sua defesa".
No caso, o Brasil nem 'Estado' tem: é subjugado, é 'satélite artificial' a orbitar na economia globalizada do máximo lucro neoliberal.
Aqui, não há sinais de transição para a 'modernidade', vez que não houve superação do tabu da fome, a ponto de então assegurar ao brasileiro a superior condição sobre os próprios instintos. Aqui, a fome é organizada em campanhas para zerá-la, através de 'programas' sob as mais variadas denominações, 'bolsa' isso, 'bolsa' aquilo, tíquete disso, tíquete daquilo. Tudo enquanto entidades assistenciais, beneficentes, declaradas de utilidade pública, pedem donativos através de uma vasta rede de operadoras de tele-marketing. Um "dízimo" da arrecadação garante comissão às donas das vozes que não pedem "uma esmola, pelo amor do nosso senhor Jesus Cristo", mas que dão a impressão que estão a anunciar embarque em aeroporto.
Não há que se falar em 'Estado' num país onde sequer foi dominado o problema mais comum a toda humanidade: a fome.
Oportunas as palavras de Josué de Castro, em grave advertência, a respeito: "-Foram fatores de natureza econômica especial que esconderam aos olhos do mundo feias tragédias como a da China, onde, durante o século XIX, cerca de cem milhões de indivíduos morreram de fome, por falta de um punhado de arroz".
Ora, que fatores na economia podem determinar a sucumbência do ser humano à barbárie da fome?
No século XX, é indispensável recordar, em nome dos princípios da boa administração empresarial, visando a maximização de seus lucros, os oligopólios -através de ampla multiplicidade de contratos particulares, dividiram o mundo em países desenvolvidos e subdesenvolvidos. E ao Brasi, particularmente, faltou disposição em recusar o jogo que lhe foi imposto pela ordem econômica mundial, ditada em conformidade com as regras restritivas dos cartéis. Com a liquidação proposital de sua própria estrutura industrial (cuidadosamente preservada por outros países), O Brasil entregou seu destino às mãos de pessoas cujos interesses em nada coincidem com os seus; e, vivendo há mais de 11.000 km de distância, essas pessoas comandam gerentes locais das corporações multinacionais, decidindo sobre a sorte e o bem-estar no nosso povo.
É de se entender porque, antes "um negócio da China", agora é qualquer negócio para a China.(Marcus Moreira Machado).
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