Não só na história da civilização como também na sua literatura, está presente o longo vigor do 'imoral' e do 'amoral'. No seu decurso, muitas são as mensagens a respeito, em referências várias acerca de pretendidas 'virtudes' da comunidade, numa ou noutra época. Assim, percebe-se que a concepção de caráter ao modo do século XIX, face a sua hipocrisia, parece não ter atingido a História. Afinal, o senso moral desse caráter é regressivo e repressor, sentimental e fundamentalmente equivocado, porque cruéis embaraços da moralidade pós-nazista, do nacional-socialismo, são encobertos por suas boas intenções.
Ora, nota-se a partir do exemplo que do caráter emerge a ética, não como virtude ou defeito, porém, enquanto particularidade e distinção de cada personalidade. Cada uma traz a sua própria bagagem de valores e características, tanto quanto carrega a força duradoura do que, mesmo perdurando, pode não se prestar a outra coisa senão a prejudicar muitos indivíduos. Como o caráter abrange não só o bem mas ainda o mal, ele mesmo está além do bem e do mal. Com efeito, a sua integridade é tão-somente o padrão de suas partes entrelaçadas, ainda que tal padrão seja pleno de tensões e duplicidade, em sugestiva ignominiosa contradição. Por isso, a idéia moral da personalidade impede que esta última seja vista de fato; a moral, sim, é notada. Nesta compreensão -é inegável- a moral é questão de foro íntimo, vez que o caráter a abrigá-la, ele mesmo não possui transparência necessária para afastar quaisquer dúvidas suscitadas e possibilitar, então, evidências insofismáveis. (Marcus Moreira Machado)
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