Com o materialismo histórico foi rompido o método da 'empatia', até então utilizado pelo historiador interessado em reconhecer uma determinada época da civilização, através da acedia, isto é, da indiferença a tudo o que se soubesse sobre fases posteriores da história.
Na Idade Média, para os teólogos, a fonte da tristeza era a acedia, um torpor, por assim dizer. E a natureza dessa 'melancolia' se torna mais evidente quando se indaga com quem os historicista entra em empatia. Porque a resposta é sempre a mesma, qual seja, a sua relação é com o vencedor. Afinal, todos os que até hoje triunfaram foram herdeiros dos que venceram antes. O legado da dominação. Esse retraimento de sensações, emoções e comportamento, tendente a aceitar a vitória dos conquistadores como versão exclusiva, beneficia, obviamente, os próprios dominadores.
Para o materialismo histórico, essa é a chave do processo analisado. Ora, todos os que até hoje venceram participam do séquito glorioso, no qual os atuais dominadores humilham, desprezam os corpos prostrados, inertes, dos dominados. Os 'restos' são levados nessa procissão da vitória.
Esses despojos têm nome, são os chamados 'bens culturais'. E o materialismo histórico os observa à distância. Pois todos os bens culturais que vê têm uma origem sobre a qual ele não pode pensar sem o estarrecimento presente. São bens devidos não somente ao esforço de expressivos gênios criadores, mas também ao trabalho gratuito imposto a anônimos contemporêneos dessas criativas personalidades. Por isso, todo monumento de cultura é ao mesmo tempo uma obra da barbárie. E da mesma maneira como a cultura não é imune à barbárie, desta não está isenta o seu processo de transmissão. Eis a razão, no materialismo histórico, da necessidade de se desviar desse caminho simplista, procurando, tanto quanto possível, o completo resgate da história.(Marcus Moreira Machado)
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