'Cidadão' -titulo adotado pelos que se consideravam espíritos liberais- é expressão anterior à Revolução Francesa, utilizada por Beaumarchais em causa própria, e sua defesa ante o Parlamento.
Declarou o autor de "O casamento de Fígaro":
"- Sou um cidadão; isto é, alguma coisa de novo, de inaudito; nem financeiro, nem abade, nem cortesão, nem favorito; nem NADA QUE SE POSSA CHAMAR PODER... Sou um cidadão -o quê os senhores deviam ser desde há duzentos anos e hão de ser dentro de vinte, talvez".
Contemporaneamente, vocábulos como 'cidadania', 'ética' e 'moral', vêem-se desgastados ante o seu mau uso por "cidadãos" que não o são, contagiados por uma "ética" em tudo distanciada dos 'DEVERES DO HOMEM PARA COM DEUS E A SOCIEDADE', imbuídos de MORALISMO oposto à MORALIDADE.
É o triunfo, efêmero porém devastador, da superfluidade eleita no hedonismo como padrão de êxito na atual civilização.
A integridade, a essência da cidadania -traduzida pelo "direito de possuir direitos"- são relegadas a deformada compreensão dos atributos humanos. Estamos diante da mais singular equivocada "cidadania": a 'CIDADANIA DA VINGANÇA'.
Facilitado o acesso à Justiça, possibilitada a representação popular através de conselhos vários (paritários ou de auto-gestão), o fulano reclama, não reivindica; ciclano "esperneia",mas não protesta; beltrano conspira, porém, não realiza. Contudo, todos se crêem 'autoridade', ignorando que AUTORIDADE NÃO É CREDENCIAL E SIM CONHECIMENTO.
Somos cidadãos, sim! Todavia, não representamos NADA QUE SE POSSA CHAMAR PODER. Temos direito a ter direitos! Contudo, o próprio Direito foi, é, e será sempre a SUPERESTRUTURA DO ESTADO. Via de consequência, toda e qualquer instituição moderna que represente segmentos retrógados é também tão arcaica quanto o Estado obsoleto.
Necessitamos de juizados mais ágeis, não há dúvida.
Precisamos de conselhos representativos, é certo .
Carecemos ainda, entretanto, da estirpe, da ÍNDOLE DE UM POVO que se faça representar pela efetiva cidadania, ao invés da arrogância daqueles que enxergam na Justiça não mais que um INSTRUMENTO DE OPRESSÃO, e não o da promoção do bem-estar individual e coletivo, essencial àqueles que -à maneira de Beaumarchais- não são financeiros nem abades, nem cortesãos nem favoritos... São CIDADÃOS !
Marcus Moreira Machado
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