"- Que cidadão!" , exclamou o guri, à entrada da capital.
Maravilhado com a megalópole, o menino queria porque queria saber quantas entradas tinha a enorme cidade. O pai, sem graça, não sabendo o quê responder, dizia: "-Não dá nem para imaginar!"
No seu deslumbramento natural de criança vinda o interior, o garoto não pensava noutra coisa: afinal, por que num "cidadão" como aquele não existia nem portal, nem porteira ou mata-burro?
Afinal, mesmo com apenas oito anos de idade, ele já prestava atenção no diz-que-diz lá da sua terrinha. E lá não se falava em mais nada além dos umbrais, portentosas obras arquitetônicas, somentes superáveis pelos Jardins Suspensos da Babilônia; e, é claro, pelo superávit da receita que minguava mas dava.
No rincão do pimpolho, comentava-se, mais segura seria a segurança (desse jeito mesmo! numa figura de linguagem que, nem pleonasmo nem retórica, e despertando a ira da permissão poética, assemelhava-se a onomatopéia). Nas plagas do rapazinho, ladrão não entraria e ladrão não sairia, com os tais de umbrais em todas as saídas contábeis (era sim possível contá-las).
O quê se dizia na 'terra' do menino ... ! Era tanto o quê por lá se dizia, a ponto de ele mesmo imaginar se a sua cidadela não seria a verdadeira terra do Peter 'Pan'. Faltava a fada-madrinha, verdade. Não existia também o Capitão Gancho, embora, certamente, jacaré já existira. Mas, pensava, provavelmente Peter 'Pan', lá, tem.Que igual ao conhecido personagem, teima em não crescer.
Nos sonhos do infante, os umbrais eram, sem dúvida alguma, do aquém.Ignorando não existir pecado do lado de baixo do Equador, ele acreditava na reputação do clã e na sapiência dos anciãos,voltados (era isso o quê ouvia oficialmente) para o bem-estar coletivo.Tanto que NAS SAÍDAS NINGUÉM ENTRAVA E NAS ENTRADAS E BANDEIRAS ALGUNS SAÍAM com o tesouro dos demais -os limitados pelo fosso que circundava o lugar.
Daí o espanto. Daí a incredulidade do menino, "perdido" em meio a tantas novidades capitais da metrópole. Quanto crucial era definir -muito mais que intitular- conhecimentos antes nominados pelos adultos!
Ele não conhecia o significado da palavra 'mandala'. Contudo, bem compreendia, no círculo, a REALIDADE DA CIRCUNFERÊNCIA CHAMADA PERIFERIA.
Agora, sem referenciais, já então silente, imaginava que o grande era o pequeno, vez que tudo aparentava na passar de uma imensa periferia; diferente da sua cidade, onde, no centro, se via um cidadão 'caminhando e cantando' a passos largos para os arrabaldes, num vaivém de quem -sem saber o porquê- não vai além; volta aquém.
Marcus Moreira Machado
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